portugal continua a ser fortemente penalizado pelos investidores e com uma dívida superior a 120% do produto interno bruto (pib) – o dobro do valor considerado estável por bruxelas –, os receios de uma reestruturação da dívida do país, à semelhança da grécia, são cada vez maiores.
num estudo sobre os seguros de crédito da dívida pública, o fmi analisou a flutuação dos juros da dívida pública, desde o início da crise financeira mundial em 2008 até aos dias de hoje, e calculou os factores que mais influenciam a subida ou descida nos custos de financiamento.
portugal é, de longe, o país que regista a maior variação nos juros, não só entre as economias da zona euro (ver quadro), mas também face a regiões emergentes (como por exemplo, argentina, venezuela ou rússia), que por norma têm maiores dificuldades de crédito.
a sensibilidade dos juros portugueses é quase o dobro da irlanda e três vezes superior a espanha ou irlanda – a grécia não foi incluída neste estudo.
os dados mostram que portugal foi, ao longo da crise financeira mundial e agora do euro, um dos estados mais penalizados pelos investidores, cada vez que há alguma tensão na região da moeda única. foi assim, recentemente, com o resgate de chipre, onde os juros subiram 10% e a banca sofreu perdas de 2,5 mil milhões de euros, e anteriormente com o perdão de dívida grego ou o resgate à banca em espanha.
o documento revela ainda que o rácio entre a dívida pública e o pib é o elemento que mais influencia negativamente os juros da dívida de um país – muito acima de factores como o crescimento da economia ou mesmo da saúde financeira da banca.
esta percepção dos mercados é uma clara desvantagem para portugal, devido à dimensão da sua dívida pública. este ano, esta deverá atingir os 123% do pib, sendo assim o terceiro país mais endividado da zona euro e um dos penalizados neste indicador em toda a ocde, grupo que engloba as 30 economias mais desenvolvidas do mundo. pior que portugal, só a grécia (145%) e itália (130%).
o fmi continua a afirmar que a dívida portuguesa se mantém estável, apesar de já ter superado o limite máximo de 120%, considerado gerível pela instituição de washington. um perdão de parte da dívida, como aconteceu na grécia, continua a ser um tema tabu para o governo de passos coelho, cuja estratégia tem sido apostar no aumento das maturidades dos empréstimos num modo de reestruturação light (ler mais nas páginas 6 e 7).
portugal deverá este fim-de-semana, em dublin, conseguir a extensão por mais sete anos dos prazos de reembolsos das tranches da troika. porém, são cada vez mais as vozes que defendem que só com um perdão parcial da dívida pública é que o país terá chances de retomar o crescimento e o estado ter alguma folga orçamental para estimular a economia, através da poupança com encargos com os juros. o custo anual deste encargo é superior a 7 mil milhões de euros, duas vezes o plano de corte de despesa do estado previsto para 2013 a 2015.
de todos os países intervencionados pelo fmi, desde 2009, portugal é o que detém a dívida mais elevada do grupo dos estados que ainda não sofreram um perdão de dívida, seguido da irlanda, hungria e islândia.