nos últimos vinte anos, a percentagem de chineses que admitem ter mantido relações sexuais antes de casar “subiu de 15 para mais de 50%”, mas “as atitudes conservadoras sobre a sexualidade”, e em particular a “obsessão com a virgindade”, “permanecem largamente intactas”, afirma richard burger, autor de “behind red door – sex in china”.
“a virgindade é o dote mais precioso que uma rapariga pode dar à família do seu marido”, defendeu em 2011 uma delegada à assembleia nacional popular, o “supremo órgão do poder de estado” na china.
para a ativista conservadora tu shiyou, conhecida como “deusa da virgindade”, “uma mulher solteira que perde a virgindade pode corromper a moral da sociedade” e “a entrega ao prazer sexual (antes do casamento) pode provocar a decadência de um país”.
a restauração cirúrgica do hímen, feita num hospital público, custa cerca de 4.400 yuan (545 euros) – quase tanto como o salário médio em pequim.
todos os anos, “milhares de chinesas” fazem aquele tipo de operações plásticas, afirma richard burger.
há soluções mais baratas, à venda na internet e em qualquer das 200.000 ‘sex-shops’ do país: a mais comum é um hímen artificial, introduzido pouco antes do ato sexual, e que depois de perfurado, liberta um líquido vermelho.
por apenas 500 yuan (60 euros) – garante a publicidade – uma noiva pode “recuperar a virgindade em cinco minutos”, “sem cirurgias, sem injeção e sem efeitos secundários”.
a avaliar por um exemplo citado no livro de richard burger, a segunda parte daquele anúncio é duvidosa.
num outro caso, o líquido vermelho que manchou os lençóis exalou “um odor tão desagradável”, que mesmo um noivo ingénuo não confundiria com sangue humano: a lua-de-mel acabou em divórcio.
o negócio parece, contudo, florescente. cui jian, considerado o “pai do rock chinês” e o “bob dylan da china”, já realizou um pequeno filme sobre este fenómeno, intitulado “reparando o hímen”.
segundo richard burger, a china “já foi uma das sociedades sexualmente mais desinibidas do mundo” e cultivou outrora “uma literatura erótica muito explícita”.
a mais conhecida sexóloga chinesa, li yinhe, costuma salientar que “na milenar cultura da china, há vários exemplos de grande tolerância sexual” e “vários imperadores tiveram até companheiros homossexuais”.
mas depois da instauração do regime comunista, em 1949, a sexualidade passou a ser encarada como “parte da poluição espiritual do ocidente” e ainda hoje, “apesar do crescente liberalismo, a sociedade chinesa mantém uma grande ambiguidade face a tudo o que diz respeito ao sexo”, afirma richard burger.
as primeiras ‘sex-shops’ chinesas abriram, aliás, com o patrocínio de serviços hospitalares, no início da década de 1990, e as suas empregadas usavam batas brancas, como as enfermeiras.
lusa/sol