Cozinhar para beber

Interessante a prova que a Herdade do Esporão levou a efeito, com os convidados a cozinharem o prato de carne para o seu próprio almoço. A grande novidade, o branco Duas Castas 2012, também passou neste ‘duro’ teste.

a herdade do esporão apresentou a sua mais recente novidade, o branco duas castas 2012, e fê-lo pela mão de um dos seus enólogos, luís patrão, e do seu chef miguel vaz. explico melhor. luís patrão apresentou este vinho e mais um tinto e um porto que iriam acompanhar uma refeição feita e ‘orientada’ por miguel vaz, chef do restaurante da herdade do esporão, em reguengos de monsaraz. quer então isto dizer que miguel vaz cozinhou para os convidados no restaurante da herdade? negativo. falta aqui explicar a palavra ‘orientada’!

e a história é assim. veio até lisboa, onde a comida foi feita e o vinho apresentado no kiss the cook, em alcântara. até agora tudo a correr bem. o soufflé de bacalhau e queijo e a sobremesa (tatin de maçã bravo de esmolfe) saíram das mãos de miguel vaz, mas quanto ao peito de pombo-torcaz com arroz de cogumelos silvestres é que a conversa foi outra.

o chef dispôs os convidados à volta de uma enorme bancada de cozinha, cada um com um posto de lume, colocou-lhes um avental e orientou-os para cozinharem o prato de carne do seu próprio almoço.

imagine-se os olhos arregalados de muita gente, temendo que a única saída era ir comer uma sandes de carne assada à tasca mais próxima. guardarei para melhor oportunidade o resultado deste ‘cozinhe você mesmo’, mas sempre vou adiantando que foi de ir até às lágrimas, ainda que tenhamos todos almoçado.

mas vamos ao que mais interessa: os vinhos. o duas castas 2012 resulta de experiências que todos os anos os enólogos fazem, e em 2012 juntaram 65% de roupeiro (foi um óptimo ano para esta casta) com 35% de arinto, um lote que, pode dizer-se, é um clássico. para o ano outra novidade virá. quanto a este branco, revela aromas de citrinos e flores silvestres. o paladar é intenso e envolvente, com apontamentos florais e uma mineralidade a realçar o final fresco.

provámos também o assobio 2010, que vem da quinta dos murças, no douro, e que se revelou elegante, com fruto jovem e acidez equilibrada. quanto ao porto, um quinta dos murças 10 anos tawny, revela um aroma bastante complexo com notas de figos e nozes e tem grande frescura final.

jmoroso@netcabo.pt