o ‘isto’ a que se refere é o ser actriz. e joana de verona é-o de corpo e alma. se restassem dúvidas basta olhar para o seu mês de abril. continua no ar com as séries depois do adeus e as linhas de torres, ambas na rtp, a 23 estreia no festival indielisboa a sua primeira incursão enquanto realizadora e até dia 28 estará em cena no teatro nacional são joão com rosencrantz & guildenstern estão mortos, de tom stoppard e encenado por marco martins (que depois irá para occb).
joana conheceu marco martins em 2007, quando tinha 18 anos, e foi escolhida como protagonista de como desenhar um círculo perfeito, uma história fracturante de amor entre dois irmãos. desde então a proximidade a esta família artística manteve-se e leva-a agora ao palco como ofélia, ao lado de beatriz batarda, gonçalo waddington e nuno lopes, entre outros. em equipa que ganha não se mexe. e a verdade é que foi através deste filme que joana recebeu uma das mais importantes nomeações para o seu trabalho: melhor actriz no cineport – festival de cinema do brasil. «fiquei muito contente, sobretudo porque sou luso-brasileira. mas quando soube que estava nomeada com a glória pires achei absurdo, não percebi a comparação. não podem nomear uma miúda e a glória pires! achei que estavam enganados!».
foi exactamente a mesma coisa que pensou quando, em 2012, recebeu a notícia de que o jornal brasileiro o globo a tinha nomeado como uma das três novas beldades do cinema europeu, ao lado da francesa léa seydoux. até porque, apesar de lidar bem com as abordagens das pessoas, em portugal sempre passou ao lado da imagem de beldade. «não motivo isso, nunca fiz uma produção para uma revista masculina».
joana de verona nasceu no brasil, porque os pais, ambos portugueses, ali trabalhavam, mas logo com um ano veio a portugal. e sempre soube o que queria da vida: «desde os quatro anos que dizia que queria ser actriz ou bailarina». aos oito anos começou a fazer teatro amador no alentejo. depois a família regressou ao brasil, ao rio de janeiro, mas joana continuou a representar. «lembro-me de ir ao projac. era uma excitação! ia a castings com 50 mil pessoas e a minha mãe dizia-me sempre que o importante era tentar». numa das tentativas teve a primeira grande oportunidade: uma participação na série da globo a presença de anita.
no regresso a portugal, aos 13 anos, não sentiu um choque, mas percebeu que vivia num «não-lugar». «no brasil eu era ‘a portuguesa’, cá era ‘a brasileira’. mas hoje percebo que o facto de ter mudado sempre muito, quer de país quer de localidade aqui em portugal, ajudou-me a adaptar-me. e isso permite-me trabalhar mais facilmente fora de portugal». mais, o facto de ter dupla nacionalidade ajuda-a a trabalhar no brasil: «não preciso de visto e tenho o sotaque brasileiro». em janeiro esteve um mês no brasil a filmar o touro, um documentário ficcionado, de larissa figueiredo. «sempre que tiver trabalho em portugal quero trabalhar cá, mas o meu eixo passa também pelo brasil e por frança».
antes da escola superior de teatro e cinema estudou teatro no chapitô. nessa altura, tinha 15 anos, estreou-se no cinema, com sonâmbulo, um filme de sombras, de joão trabulo. logo de seguida é escolhida para os morangos com açúcar, em 2006. não aponta críticas à novela juvenil, mas nos anos que se seguiram fez pouca televisão. actualmente está no ar na rtp com depois do adeus, uma série que preparou em conjunto com o pai. «tive a enorme sorte de o meu pai ter vivido esta época activamente – na altura era director do jornal vila-realense, em vila real. passei imensas horas com ele, a tirar dúvidas».
também no ar na rtp está ainda a versão para televisão do filme as linhas de wellington, de raoul ruiz (póstumo) e valeria sarmiento. o filme teve mais de 50 mil espectadores em portugal e foi também um sucesso em frança. na altura em que as linhas de wellington passava nas salas, em finais de 2012, a actriz estudava cinema documental nos ateliers varan, em paris. foi aí que se estreou na realização com chantal, «um filme que fala sobre a solidão e a incapacidade de encontrar um amor». esta primeira obra está agora em competição no indielisboa, na secção novíssimos, para novos realizadores.
joana parece não cometer erros. aos 23 anos, tem um currículo recheado apenas com sucessos – outro dos pontos altos foi o papel de co-protagonista na curta-metragem rafa, de joão salaviza, que trouxe para portugal pela primeira vez, em 2011, o urso de ouro do festival de berlim. «quando começam a dizer que o urso vai para a história de um rapaz que está perdido na sua identidade, senti o coração a bater e gritei ‘joão!’. foi uma emoção, uma grande euforia, talvez a maior do meu percurso».
diz que ainda está a começar e que não se esquece de um dia lhe terem dito que não tem idade «para ter medos ou dúvidas, só certezas». gosta de arriscar. «não sou uma actriz com medo de falhar. acho que trabalhar é um processo de tentativa e erro. como diz o beckett: ‘tentar de novo. falhar de novo. falhar melhor’. não acredito em actores com percursos incólumes». mas o seu, até agora, é.