Andreia Vale: ‘Sinto-me bem é no estúdio’

A cara do CM Jornal da hora de almoço não vê audiências, prefere o trabalho de estúdio e vinga-se nas corridas para descarregar o stresse. Faz meias-maratonas. Acredita que o arranque difícil da CMTV é o começo de uma prova de fundo.

esteve 12 anos na sic notícias. o que a levou a correr um risco tão grande de sair de um sítio instalado para uma coisa nova?

o facto de já ter 34 anos e nunca ter trabalhado em mais nenhum sítio a não ser na sic. estava habituada a um porta-aviões a navegar em alto mar, com a engrenagem toda a funcionar. mas, e contra mim falo, achei que estava estagnada. se calhar isso aconteceu porque me acomodei e não tinha perspectivas imediatas de fazer coisas diferentes. e numa altura em que o mercado não mexe, uma coisa surgiu para mexer um bocadinho e para dar emprego a várias pessoas. achei que era uma oportunidade que não devia deitar fora. e obviamente não fiquei a ganhar menos.

na altura estava a fazer o quê?

estava a apresentar alguns fins-de-semana e estava na equipa do primeiro jornal, entrava às 9h e saía às 16h. fazia tudo e mais um par de botas: reportagens, directos, quando não estava na redacção podia estar requisitada para apresentar um opinião pública ou um espaço de desporto. mas é na ‘pivotagem’ que estou mais à-vontade e senti que essa minha qualidade não estava a ser aproveitada. não tinha um espaço fixo, como agora, em que de segunda a sexta tenho o cmjornal das 13 para apresentar. embora tenha sido importante o traquejo de ter feito esse trabalho de reportagem e de rua, é no estúdio – no aquário, como costumo dizer – que me sinto bem.

como lidou com as críticas ao arranque da cmtv, que incluíam o lado técnico muito deficiente, com má iluminação, mau som…

vou ser sincera. não vi o arranque da tvi 24, da rtp informação, nem o da sic notícias, porque estava lá. e já foi há 12 anos, não tenho termo de comparação porque a tecnologia é completamente diferente e é injusto fazermos essa comparação. a única coisa que vou dizer do arranque da cmtv é que este foi um parto um bocadinho mais difícil que outros.

o facto de o arranque não ter corrido bem desmoralizou?

foi duro, mas estamos a trabalhar muito e todos os dias há melhorias. é como numa corrida: a cada quilómetro, vamos melhorando e esforçando-nos mais.

o que achou das audiências ?

vou dizer uma heresia: nunca vejo audiências e não perguntei. sei que são importantes, e não estou a desvalorizar a importância que se lhes deve dar e o que elas significam, mas todos os dias acordo preocupada com o que vou fazer no jornal desse dia. o jornal anterior está feito.

uma pessoa quando muda de emprego preocupa-se com a viabilidade do novo projecto. as audiências são uma medida dessa viabilidade…

é óbvio. mas a situação financeira da empresa, a cofina, no seu todo, também é, bem como o empenho das pessoas neste projecto. os níveis de audiências estão longe de ser o único critério de viabilidade de uma estação.

está arrependida da mudança?

não. muitas vezes quando tinha a decisão em cima da mesa hesitava. mas, de facto, o futuro é imprevisível. só podemos ter certeza do momento presente. o arranque da cmtv foi o que foi, não vou sequer qualificá-lo, faz parte da história. a nossa função e responsabilidade agora é melhorar.

como tem sido a experiência?

tem sido um pouco recordar o início da sic notícias, embora a minha perspectiva agora seja diferente. quando entrei para a sic notícias era uma estagiária, actualmente sou responsável por apresentar o cmjornal e tenho também participação a nível de produção e coordenação. participo na coordenação do jornal, nos primeiros dias até fiz isso sozinha. agora sei bem o que implica e o que custa formar um canal de tv. começar uma coisa de raiz é de loucos e uma televisão é pior ainda.

faz alguma comparação com os noticiários dos outros canais?

quando estou no estúdio não tenho tempo de ver e depois já tenho o trabalho do dia seguinte para preparar. pessoalmente não tenho podido fazê-lo. sou uma operacional. questões editoriais, questões analíticas, deixo para quem gosta e para quem certamente fará melhor. eu trabalho no terreno.

quais as diferenças entre a redacção da sic e da cmtv?

sair da sic foi o equivalente a sair da casa dos meus pais. de início, foi um choque brutal. convivi com aquelas pessoas durante 12 anos, tive filhos lá dentro, amigos, tudo. de repente venho para um sítio onde tenho caras conhecidas. não tenho dificuldade em fazer amizades e, portanto, já estou mais do que enquadrada.

o que a levou a ser jornalista?

não sei porquê, não tenho jornalistas na família. houve uma fase em que disse para mim: ‘quero ser jornalista de televisão e o meu sonho é trabalhar na sic notícias’. e consegui.

como?

o josé alberto carvalho, que era meu professor no curso da escola superior de comunicação social, convidou-se para estagiar na sic notícias, que ia arrancar. o nuno santos, que na altura era director da sic notícias, perguntou-me se eu tinha experiência de apresentar. levei-lhe uma cassete com exercícios da escola e ele mandou-me fazer o curso de pivôs. comecei logo a apresentar os noticiários das madrugadas. tive sorte, mas não foi tudo de mão beijada. não me puseram à frente de uma câmara sem muito trabalho prévio. e se não tivesse valor e empenho não teria ficado.

o que lhe interessa além da televisão?

os meus filhos. correr.

porque começou a correr?

literalmente, porque era mais barato do que ir ao psiquiatra – uma consulta custa 100 euros – ou às compras. um dia saí de casa e andei cinco minutos, no dia seguinte caminhei dez. agora faço meias-maratonas.

pensa correr uma maratona?

isso já exige um outro tipo de preparação, não me parece que o faça. nesta fase, tem sido difícil conseguir correr sequer e já engordei cinco quilos, até porque comecei a comer porcarias. mas assim que as coisas acalmarem tenho que voltar a disciplinar-me, embora só possa correr ao fim do dia, nas semanas em que não tenho os meus filhos.

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