este uso, acrescentou, era «uma fraude». descrever o fanático como um loser, um falhado, é adequado. os irmãos não eram bombistas suicidas, mas não deixam de ser tão losers quanto eles. a inadaptação ao estilo de vida ocidental parece evidente no caso do irmão mais velho, que escreveu no facebook não ter um único amigo americano e disse não entender o país. inspirou-se nos que falavam para os losers como ele, e que incitam à violência e à morte. é possível que tenha persuadido o irmão mais novo, loser em potência, a acompanhá-lo no crime. há que ter muito cuidado com os espíritos fracos.
mais um
quando ouvi falar do sexagenário que se fazia passar por mickael carreira para conseguir que as mulheres se despissem não me passou pela cabeça que estivessem a falar do caso típico de usurpação de identidade na internet. imaginei um homem que hipnotizava senhoras ao vivo. teria uma capacidade tão extraordinária para enganar o próximo que até fazia com que as mulheres se despissem à sua frente, convencidas de que estavam perante a celebridade dos seus sonhos. era uma espécie de super-poder. assim pela internet não tem nenhuma novidade. é caso para dizer ‘olha, assim também eu’. já sabíamos o encanto que exercem os homens da família carreira em muitas criaturas do sexo feminino. ficámos a saber ao ponto a que chega a sua ânsia por serem desejadas pelo seu ídolo e a generosidade com que encaram qualquer pedido da sua parte. já me dou por satisfeita por o usurpador não lhes ter pedido para se atirarem para dentro de um poço.
até 29 de setembro
na semana passada falei sobre uma doação excepcional de obras cubistas de leonard lauder ao metropolitan museum. esta semana temos outro candidato a um lugar no céu: a insuspeita goldman sachs. o motivo não é uma doação, mas um patrocínio exclusivo a uma exposição organizada pelo british museum sobre as cidades de pompeia e herculano, destruídas na sequência da erupção do vesúvio em 79. num dia que parecia igual aos outros, a interromper a vida, duas cidades ficaram de um momento para o outro soterradas pelos gases tóxicos da erupção. a mulher que conta a história no vídeo de apresentação abre os olhos e é confrontada com uma nuvem piroclástica, uma massa de gás quente que se desloca a alta velocidade e que destrói tudo o que encontra à sua frente. a exposição também é sobre um dia normal que de repente deixou de ser e do qual ninguém ali pôde recuperar. é uma daquelas ironias ser patrocinada pela goldman sachs.
ceder ao tempo
parecia que nunca mais vinha o sol e que o calor só lá mais para o verão, que seria de novo breve, como o do ano passado, e a entrar por outubro dentro. afinal as piores previsões, baseadas em circunstâncias anormalmente chuvosas, não tinham fundamento e não se concretizaram. como não podia deixar de ser, a primavera chegou com os seus pólenes cruéis e um sol quente a fazer lembrar o que dávamos por perdido. a reacção às novas temperaturas foi, quanto a mim, desesperada. as ruas da cidade inundaram-se de sandálias e chinelos como se o mundo fosse acabar amanhã. até vi autóctones de calções. interpreto a passagem repentina para o guarda-roupa de verão como uma cedência fácil a uma mudança que requer uma certa calma. além do mais, vamos ter de contar com uma certa inconstância na meteorologia nos próximos tempos primaveris. não é prudente pormo-nos a apanhar sol de biquíni no jardim. já chegámos aos trópicos? mas afinal somos ingleses ou quê?
para sempre
numa edição feliz do the new york review of books, michael dirda escreve sobre o seu contacto com o detective sherlock holmes. quando fala das adaptações das histórias de sir arthur conan doyle para cinema e televisão, apesar de preferir jeremy brett, elogia os filmes com robert downey jr. e o ‘byroniano’ benedict cumberbatch, herói da série sherlock. gosta, além disso, da série elementary, que nos apresenta uma visão ousada do herói e do seu assistente. jonny lee miller é um toxicodependente em recuperação profusamente tatuado e o dr. watson é joan watson, interpretada por lucy liu. o fenómeno sherlock holmes é actualizado no cinema e na televisão e também na literatura. dirda refere bertie wooster e o seu mordomo jeeves como uma aproximação ao duo de conan doyle. a sugestão é original. o artigo foi eficaz porque despertou a vontade de rever e reler tudo sobre o detective. até uma autobiografia do dr. watson, cuja existência desconhecia.