Demasiado grande

Todd Gitlin escreveu um excelente artigo na Salon sobre a situação actual da imprensa (em http://www.salon.com/2013/04/25/ is_the_press_too_big_to_fail_partner/). Gitlin defende que os media nunca foram capazes de contradizer o mainstream, nem mesmo nos seus tempos áureos. Os casos mais memoráveis são a guerra de George W. Bush e a abolição da lei Glass-Steagall, que abriu as…

à excepção de dois pequenos jornais locais do maine e da florida, que alertaram para os perigos do que aí vinha, a imprensa tradicional ou de referência preferiu seguir o raciocínio de alan greenspan. no entanto, e apesar da decadência dos jornais e dos programas informativos das televisões, que começou antes da internet, esta imprensa não parece estar em perigo de desaparecer. se não fossem os grandes meios de comunicação, como seria possível sabermos a história oficial dos acontecimentos?

valentino foi expulso

li a notícia sobre os três homens expulsos da arábia saudita por serem demasiado bonitos sem acreditar no que estava a ler. expulsar uma pessoa de um país por uma razão que não depende da sua responsabilidade (neste caso, a beleza) seria um precedente medonho. se o argumento é válido para a beleza, por que não para a cor da pele ou para a idade? mas não levemos o tema frívolo para terrenos demasiado sérios. o problema, ao que parece, estava nos efeitos da beleza masculina estonteante nas mulheres. foram expulsos para preservar a paz e a ordem. para evitar manifestações de mulheres a exigir direitos iguais de acesso àquela lindeza e quem sabe se até tumultos nas ruas entre cidadãs mais competitivas. se for assim, então acho bem. mas não deve ser. a fotografia de um dos adónis foi divulgada. omar borkan al gala é um fotógrafo/actor/modelo que faz lembrar rudolfo valentino. não será uma campanha publicitária?

fora de moda

quando aconteceu o grande terramoto de lisboa, a europa dividiu-se entre os que clamavam pela misericórdia divina e os que defendiam que deus não tinha nada a ver com o assunto. as consequências foram várias: muitos abraçaram ainda mais a sua fé e outros entregaram-se com idêntica devoção aos braços da razão. voltando ao século xxi, o que de mais parecido temos agora com um tremor de terra é a crise financeira que começou há quase dez anos. as consequências são hoje igualmente diversas. há gente, pouca, o tal 1%, se me atrever a calcular, que continua na mesma. o resto redescobriu a ética. um artigo no the telegraph menciona um estudo em que se concluiu que a ganância já não é a maravilha proclamada nos anos 80. como é ganho o dinheiro foi um motivo de preocupação manifestado pela generalidade dos inquiridos. isto é bom, apesar de não ser nada de muito novo. mas também é bom termos a certeza de que deus não tem nada a ver com isto.

filho único

jiayang fan conta num artigo na the new yorker um episódio da sua vida que dificilmente fará parte da imaginação de um ocidental médio. quando tinha sete anos, pouco antes de ir para os estados unidos, foi enviada pelos pais, por três meses, para uma zona rural da china. aí conheceu a sua tia mais nova, cuja existência ignorava até então. a tia era responsável pelo planeamento familiar na china, que desde 1979 passa pela política de filho único na cidade de pequim (a excepção são os gémeos) e por uma média de oito milhões de abortos por ano. a tia foi trocada por duas sacas de arroz quando era bebé, porque os pais não tinham dinheiro para alimentar aquela que era a sua quinta filha. na aldeia onde jiayang fan viveu durante aqueles três meses havia poucas raparigas, muitos rapazes e vários eram irmãos. em adulta, nos estados unidos perguntaram-lhe se tivera irmãos dos quais ‘os pais se tinham livrado’. era filha única, mas lembrou-se da sua tia mais nova.

como elas

um juiz curdo iraniano de marivan, uma cidade na fronteira entre o irão e o iraque, condenou um delinquente a andar vestido na rua como uma mulher. a lei prevê castigos que implicam humilhações públicas, como andar de orelhas de burro ou com letreiros pendurados onde estão escritos os crimes cometidos. mas desta vez a pena deu origem a um protesto bastante original e eficaz no facebook. a página intitulada kurd men for equality apresenta uma série de fotografias de homens vestidos de mulheres acompanhadas de textos de homenagem e respeito ao sexo oposto. os homens que protestaram contra a humilhação das mulheres em penas estúpidas como esta não estiveram sozinhos na revolta pacífica. a associação de mulheres de marivan também condenou aquilo que considera ser um insulto. e é. os protestos entretanto passaram do facebook para a rua e acabaram em confrontos com a polícia local. apesar da confusão, estamos perante uma boa notícia.