Há várias formas de olhar para este fenómeno. A primeira é tentar avaliar a importância intrínseca das notícias. Como determinar se uma notícia é importante? Pelo número de vezes que é referida nos media? Pelo impacto que tem na formação da opinião individual de cada um? Pelo impacto que tem na formação da opinião ou nas decisões dos poderosos? Pela intensidade com que é debatida no espaço privado ou público?
No meu caso individual, tento avaliar a importância das notícias pela sua perenidade. Perguntando-me se determinado assunto será lembrado dentro de um certo horizonte temporal: por exemplo seis meses ou um ano. Se a resposta for sim, a informação deve ser importante e merece o esforço de tentar compreender. Se a resposta for não, a notícia será apenas parte da vertigem e velocidade mediática presente, e tenderá a desvanecer-se na nossa memória individual e colectiva. Uma forma prática de testar esta noção de importância é tentar recordar mentalmente as notícias importantes dos últimos doze meses. Para a maior parte de nós não serão mais de dez, o que sugere que a nossa ansiedade perante determinado episódio informativo foi talvez excessiva para a sua importância efectiva.
Uma segunda forma de olhar para a velocidade da comunicação é na perspectiva da capacidade de percepção e compreensão da informação e notícias na perspectiva dos indivíduos. A enorme evolução tecnológica, associada ao processo de comunicação, não foi acompanhada de uma equivalente evolução biológica do ser humano. Assim, há limites biológicos e cognitivos à capacidade de compreensão individual das notícias que vemos e lemos todos os dias. E há ainda notícias em que é necessário um certo tempo de maturação para as apreender e compreender o seu significado. A mente humana opera dentro de certos limites de capacidade de processamento de informação. Porém a nossa sociedade vive intensamente o presente e exige uma permanente posição sobre todos e cada um dos temas do dia.
Somos, assim, desafiados a efectuar juízos de valor sobre acontecimentos que não tivemos tempo de compreender suficientemente.
O recurso a terceiros para interpretar as notícias é obviamente útil. Mas os próprios intérpretes das notícias no espaço público são também seres humanos normais, sujeitos a limitações na compreensão das notícias pelo que é perfeitamente natural que as suas interpretações da informação feitas em cima dos acontecimentos não tenham tempo de maturação. Devem por isso ser descontadas pelos espectadores, mesmo quando são intermediários fiáveis, frios e independentes.
A existência de notícias em contínuo na internet combinada com a proliferação de dispositivos móveis cria ainda uma vulnerabilidade acrescida à velocidade mediática. Muitos seres humanos estão agora expostos em contínuo às notícias sem sequer terem tempo de iniciar o seu processo de compreensão. Há uma ilusão de informação combinada com uma escassez de compreensão. Nalguns indivíduos o risco é o da criação de um determinado tipo de dependência – a dependência noticiosa. Noutros pode gerar alienação noticiosa, na prática uma forma de fuga à realidade.
Vamos aprendendo a lidar com a velocidade mediática. Mas é bom saber que há muitas pessoas normais perdidas no processo vertiginoso das notícias do quotidiano.
Professor, Católica-Lisbon School of Business and Economics