mas o objectivo central desta intervenção de portas era o de aparecer aos portugueses, e em particular à larga fatia de idosos da base eleitoral do cds, como o ‘polícia bom’, com preocupações sociais e de soberania nacional, em contraste com os ‘polícias maus’ deste governo de cortes e austeridade (passos e gaspar, claro). por isso, a propósito da «tsu dos pensionistas», como lhe chamou, o ministro portas enfatizou: «num país em que grande parte da pobreza está nos mais velhos, o primeiro-ministro sabe e creio que essa é a fronteira que não posso deixar passar». muito comovente e conveniente.
acontece, porém, que enquanto o líder do cds se mostrava muito indignado com os 436 milhões de euros que o estado ia retirar em 2014 aos pensionistas da segurança social (tendo já o compromisso de passos de haver margem de recuo desta medida) já não revelava qualquer incómodo com os 740 milhões de euros que o governo decidiu cortar em 2014 a outros pensionistas, os da caixa geral de aposentações.
portas diz querer «uma sociedade que não descarte os mais velhos», mas parece haver velhos – os pensionistas públicos da cga – mais descartáveis que outros, na óptica do cds. os cerca de 3 milhões de reformados da segurança social, que iriam perder em média 146 euros por ano com a ‘tsu dos pensionistas’, nem pensar! – estão para cá da fronteira delimitada por portas. mas os 600 mil aposentados da cga, que vão ficar em média sem 1.226 euros anuais (oito vezes mais do que a taxa que tanto transtornou portas), não incomodam o líder do cds, que acha tal medida «inevitável» e «satisfatória». mesmo que ela implique «uma espécie de cisma grisalho» dos pensionistas públicos.
percebe-se que 3 milhões são muitos mais do que 600 mil e que, por ironias eleitorais, uma das pastas de ministros do cds é precisamente a da segurança social. mas a duplicidade de fronteiras de portas, para pensionistas públicos e não públicos, roça a demagogia e o descaramento. vá lá, desta vez não pôs antónio pires de lima a falar por ele.
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