Terramoto inglês?

Os partidos nacionalistas populares ou nacionais populistas têm-se formado na Europa em volta de temas que têm a ver com a preocupação identitária e que se desdobram no euroceptismo, no controlo da imigração, na preferência nacional em direitos e em legislação económica e numa denúncia do ‘establishment’, da classe política tradicional conservadora e esquerdista e…

esta ideia da classe política – bebida nos textos de pareto, michels e mosca, todos activos em itália e no pensamento político nos anos anteriores ao triunfo do fascismo – regressa hoje estendida aos donos e agentes dos media e a alguns sectores do capitalismo financeiro. como nos anos trinta reapareceu a ideia de uma aliança (secreta, discreta ou táctica) entre os super-ricos e os políticos para explorarem a classe média.

estes partidos têm aparecido com sucesso em frança com a frente nacional, na itália, na suíça, na áustria, na holanda, para não falar dos nórdicos e da europa central e de leste. não vale a pena nomeá-los nem enumerá-los aqui: oscilam entre os 5% e os 20% nas votações e obrigaram os partidos do mainstream a adaptarem algumas das suas políticas como modo de parar a sua ascensão. têm tendência a crescer com a crise da eurolândia, embora onde surja um líder populista e politicamente incorrecto como berlusconi não percam as hipóteses.

a novidade é que a grã-bretanha tem um partido desses com crescente presença, como se viu nas eleições locais de 2 de maio. o ukip – united kingdom independence party – e o seu líder nigel farage, um deputado europeu oriundo da classe média-alta, mas que adoptou um estilo populista, desde usar meias com desenhos da libra inglesa, até atacar desalmadamente os líderes da união europeia. (chamou «idiota» e «comunista» a durão barroso e «esfregona molhada» a van rompuy).

farage quer a saída do reino unido. a subida da votação do ukip nas locais traz a ameaça a curto prazo de um terramoto político na grã-bretanha. por um lado, nas eleições europeias, pela proporcional, pode vir a ser o vencedor. por outro, está a drenar o eleitorado conservador e trabalhista, na medida em que apela ao patriotismo e tradicionalismo de uns e ao justicialismo e hostilidade à imigração dos outros.

num ciclo político de depressão, em que os ingleses vêem a eurolândia como uma vítima da moeda comum e reexaminam a sua integração na europa (o chanceler nigel lawson fê-lo no times de 7 de maio), o ukip assusta todos: aos conservadores pela direita, aos trabalhistas pela esquerda, aos liberais pelo centro.

resta aos partidos do ‘sistema’ o dilema difícil, para evitarem as perdas, de adoptar as políticas do seu inimigo. às vezes paga e salva o sistema como a eleição de reagan para candidato republicano e presidente dos eua em 1980. outras vezes não é assim. como na alemanha em 1933.