Soares dos Santos: ‘Não será fácil a ninguém suceder ao meu pai’

Pedro Soares dos Santos, administrador delegado da Jerónimo Martins e vencedor na categoria de gestão de empresa privada dos Best Leader Awards 2013, afirma que gerir património familiar retira liberdade ao líder.

a jerónimo martins (jm) está a transformar-se numa multinacional. como se preparou para entrar na colômbia, por exemplo?

entrar num novo mercado é sempre um estímulo à curiosidade, à descoberta, à vontade de fazer diferente. e deve constituir também um exercício de humildade, já que a experiência acumulada ajuda muito, mas não é, por si só, garantia de êxito. a melhor preparação passa sempre pelo conhecimento da história do país, da realidade local, dos hábitos e gostos dos consumidores, do tecido produtivo. sem esquecer a intuição, que tem um papel decisivo.

já manifestou preocupações face à situação de portugal. como avalia os nossos líderes políticos?

são líderes bem intencionados e empenhados, com uma tarefa dramaticamente difícil. fazer escolhas quando estamos reféns de credores é uma missão muito ingrata. fácil de criticar, mas que deve merecer respeito. compreendendo as dificuldades e a exigência do momento que atravessamos, não acredito em políticas que tenham como efeito reduzir a competitividade na economia, seja a nível nacional ou europeu, porque só prejudicam o desenvolvimento de uma economia verdadeiramente forte e dinâmica e os direitos e interesses dos cidadãos.

e os líderes empresariais?

a maioria do tecido empresarial português é constituído por micro e pme, lideradas por empreendedores que devem ser respeitados e que são muitas vezes esquecidos. quanto às empresas de maior dimensão, faltam a portugal comunicação e união de esforços entre os empresários.

a jm é uma empresa familiar. que vantagens e desvantagens traz este facto a um líder?

a jerónimo martins é uma empresa controlada a 56% por uma sociedade familiar, o que é diferente de ser uma empresa familiar. estamos cotados na bolsa de lisboa desde 1989. e temos milhares de accionistas minoritários, que têm o legítimo direito de escrutinar a nossa actividade. julgo que a principal característica que distingue as empresas com uma dimensão familiar forte é a estabilidade accionista e a valorização da gestão também para o longo prazo. o processo de tomada das decisões pode, por vezes, ser mais longo e mais discutido, mas isso contribui para tornar as decisões mais robustas e para reforçar o compromisso com elas. assumir a responsabilidade de gerir um património que também é da família retira liberdade ao líder, na medida em que, verdadeiramente, ninguém se pode demitir da sua família.

durante vários anos foi o seu pai, alexandre soares dos santos, que conduziu a companhia. que diferenças e semelhanças há no tipo de liderança de ambos?

somos ambos muito orientados para resultados, obtidos no respeito por princípios e valores fundamentais, entre os quais se destaca o respeito pelas pessoas.

segundo alexandre soares dos santos, foi a família que pediu que ficasse mais tempo como chairman, apesar de querer sair. porquê?

entre 2013 e 2015, teremos desafios muito exigentes: cumprir o plano de expansão na polónia que nos levará a ter, no final de 2015, 3.000 lojas; a boa descolagem da operação colombiana, que estimamos venha a fechar 2015 com cerca de 150 lojas; e a defesa das nossas posições de mercado em portugal, onde os tempos estão muito difíceis. num período em que eu e a minha equipa mais próxima seremos obrigados a muitas ausências em viagens, era importante assegurar uma lógica de continuidade ao nível da cúpula do grupo para não prejudicar o foco. não será fácil para ninguém suceder ao meu pai, muito menos num período em que a disponibilidade física da gestão de topo para construir relações do zero está francamente diminuída.

face à conjuntura de crise actual, como motivar as equipas?

tendo esquemas de remuneração variável que abrangem todos os níveis da empresa, que premeiam o mérito e a obtenção de resultados; tendo prémios extraordinários para as pessoas das lojas e dos centros de distribuição; criando políticas e mecanismos de apoio social aos colaboradores em situação mais frágil, como fizemos logo em 2011, com a constituição do fundo de emergência social, que dotamos anualmente de cerca de 2,5 milhões de euros para auxiliar os nossos colaboradores em dificuldades e as suas famílias.

ana.serafim@sol.pt