Faltam poucos minutos para as 16:00 e Tito chega ao Centro Social e Paroquial de Arroios com um saco de supermercado reutilizável. Cumprimenta os funcionários e espera na fila pela sua vez. A funcionária entrega-lhe um conjunto de marmitas com as refeições para o próximo dia.
Pão, sopa, cozido à portuguesa ou solha assada. Tito e a mulher, grávida de sete meses, recorrem a esta cantina social há cinco meses, depois de terem estado a trabalhar como operadores de produção em Inglaterra.
Foi devido à situação económica do país que Tito decidiu emigrar. Durante um ano tiveram empregos, mas os sucessivos assédios do patrão à esposa obrigaram a que os deixassem.
“Nada correspondeu às nossas expectativas”, confessa.
Sem conseguir encontrar outro trabalho, o casal decidiu regressar a casa: “Achámos que voltar para Portugal, voltar para a nossa família, seria uma boa ideia. O que estamos a constatar é que as coisas complicaram-se e sentimo-nos num beco sem saída”.
Tito não esconde a desilusão no olhar. Sem conseguir encontrar emprego, critica também a pouca assistência social a que tem direito, sobretudo pela falta de apoio à mulher, grávida. “Disseram-nos que querermos ser pais era um capricho”, desabafa.
No pouco tempo que está no Centro Social, Tito fala com os técnicos e funcionários. O director do Centro, Pedro Cardoso, confessa que “cada refeição é confeccionada para um rosto” e que, muitas vezes, a entrega da refeição serve também para as pessoas desabafarem. “Há situações muito dramáticas”, constata.
O percurso não tem sido fácil, conclui Tito, e o objectivo agora é que os dois últimos meses da gravidez da companheira sejam tranquilos. O filho é um estímulo para os pais.
“Para continuar a lutar, a acreditar. Espero um dia ser uma testemunha positiva e de inspiração”, alegra-se.
Como Tito e a companheira, a esta cantina social chegam todos os dias Humberto Rodrigues e Miriam Menezes, um jovem casal também desempregado e que terá a primeira filha em breve.
Humberto, técnico operador de informática, ficou desempregado depois de a agência de documentação onde trabalhava ter modernizado o sistema e dispensado colaboradores. Tem experiência em várias áreas, “mas nenhuma delas serve para nada”.
“Eu costumava dizer que há dez anos era difícil encontrar emprego, hoje é impossível”, aponta.
Revoltado, Humberto critica o sistema e que se “insista sempre em soluções que não resultam”. A namorada, com 17 anos, acabou agora o 12.º ano e vai seguir para estágio, que só conseguiu “por conhecimento”.
Também para Henrique Ribeiro tem sido “muito complicado” encontrar emprego. Com 58 anos, o mercado de trabalho “entende que é velho” para trabalhar. O subsídio não chega para a alimentação e há dois meses e meio que tem de recorrer a esta cantina social.
Na cantina social de Arroios são servidas 100 refeições diariamente. Aos fins de semana o número cresce. “Aos casais somam-se as refeições para os filhos que durante a semana comem na escola”, descreve Pedro Cardoso.
Beneficiários do Rendimento Social de Inserção ou do subsídio de desemprego, mas também lisboetas que trabalham mas que “o salário que recebem do seu trabalho não chega para as despesas da casa”: não há um perfil homogéneo.
No entanto, Pedro Cardoso afirma que 93 das 100 pessoas apoiadas “não têm qualquer tipo de rendimento” para alimentação. As restantes têm até 10 euros disponíveis diariamente.
Pedro Cardoso admite que tenha de se pedir um reforço à Segurança Social para aumentar o número de refeições servidas – até porque já existe uma fila de espera.
Segundo dados do Instituto de Segurança Social, existem 86 protocolos de apoios para cantinas sociais no distrito de Lisboa.
A entidade é responsável por este apoio distribuído por mais 520 entidades espalhadas pelo resto do país o que significa um esforço de 50 milhões de euros no âmbito do Programa de Emergência Alimentar.