Cubano condenado por extorquir padre na Madeira

O Tribunal do Funchal condenou hoje um professor de dança cubano a quatro anos de prisão, pela prática de um crime de extorsão na forma agravada. A pena ficou suspensa por quadro anos, na condição de o arguido não contactar por qualquer meio com a vítima, o padre Humberto Mendonça.

depois do escândalo do padre frederico cunha (na década de 90), a igreja católica madeirense está agora a braços com este escândalo. humberto mendonça, de 47 anos, ex-secretário pessoal do agora bispo emérito do funchal, d. teodoro de faria, assumiu às autoridades que manteve um “relacionamento íntimo” com o cidadão cubano, de 27 anos.

para que o jovem professor de dança, não revelasse “fotografias comprometedoras”, o sacerdote, secretário episcopal entre 1991 e 1995, foi desembolsando quantias monetárias ao longo de 2011 e 2012, calculadas em perto de 45 mil euros.

entre as 389 mensagens que o arguido enviou para uma amiga do sacerdote, exigindo dinheiro em troco do silêncio, estava uma que ameaçava recorrer ao partido do ex-candidato à presidência da república, josé manuel coelho (ptp), para denunciar o escândalo.

diocese assegura que não era dinheiro das esmolas

o julgamento do caso decorreu no passado dia 9, à porta fechada, no tribunal de vara mista do funchal e a decisão foi hoje conhecida. o sacerdote foi ouvido na qualidade de ofendido, uma vez que deduziu um pedido de indemnização de perto de 55 mil euros, por danos patrimoniais e morais.

o advogado do sacerdote é o deputado do psd na assembleia legislativa da madeira, coito pita.

entretanto, a diocese do funchal, na única declaração pública que se conhece até ao momento, feita na sequência das notícias do julgamento, veio assegurar que o dinheiro pago pelo padre na chantagem não era proveniente de esmolas, de missas ou dos paroquianos de são vicente e ponta delgada, onde o padre exerce. humberto mendonça é o arcipreste daquela zona pastoral, que integra 12 paróquias do norte da madeira.

“os sacerdotes conhecem as suas responsabilidades neste campo, sendo claro que uma coisa é a administração dos bens pessoais e outra a administração dos bens da paróquia. confiamos que todos cumpram as suas obrigações neste campo”, referiu então o porta-voz da diocese do funchal.

também o membro da confraria da paróquia do bom jesus (um dos maiores arraiais da madeira) e simultaneamente presidente da junta de freguesia de ponta delgada pelo psd, joão caldeira veio atestar a lisura do sacerdote na administração do dinheiro da paróquia.

‘manifesto contra o mal’

a 10 de maio último, um grupo de dez padres madeirenses divulgou um ‘manifesto contra a generalização do mal’, para deixar claro que o caso do padre humberto mendonça (uma notícia “horrível e triste para a igreja da madeira”) não pode ser alvo de generalização a toda a igreja madeirense.

“não é contra nada nem muito menos contra ninguém. a única razão que nos move prende-se com silêncios ensurdecedores, para que fique claro e conste para a história da nossa terra que nem todos alinharam no encolher de ombros e na demissão dos problemas que estamos a viver” – escreveu um dos signatários, o sacerdote ‘desalinhado’ da igreja madeirense, josé luís rodrigues, no seu blogue banquete da palavra.

nos últimos domingos, o padre humberto mendonça foi substituído pelo pároco manuel ornelas na celebração das missas. o substituto leu uma declaração do actual bispo do funchal, d. antónio carrilho onde o prelado diocesano dizia comungar do “sofrimento” com os fiéis das paróquias de são vicente e ponta delgada.

nos meios eclesiásticos madeirenses, circula a informação de que o sacerdote poderá ser colocado numa missão fora da ilha, possivelmente junto de uma das imensas comunidades madeirenses espalhadas pelo mundo.

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