é o escritor moçambicano mais lido em todo o mundo. aos 57 anos, mia couto recebeu o prémio camões, a maior distinção literária da língua portuguesa. biólogo e autor de obras como a confissão da leoa e jesusalém, há muito que o seu nome era indicado como merecedor do prémio que só costuma ser entregue a escritores com mais de 60 anos (distingue toda a obra do autor, não apenas um livro). este ano, o júri – constituído pelos portugueses josé carlos vasconcelos e clara crabbé rocha, os brasileiros alcir pécora e alberto da costa e silva, o moçambicano joão paulo borges coelho e o angolano josé eduardo agualusa – que se reuniu no rio de janeiro, decidiu entregar-lhe a distinção pela sua «inovação estilística e profunda humanidade». e fê-lo no ano em que mia couto assinala 30 de vida literária – lançou raiz de orvalho, de poesia, em 1983.
quando o telefone tocou para o júri lhe dar a novidade, mia nem quis atender. «estava longe de pensar que seria essa a notícia. aliás, era um indicativo de portugal, pedi à minha mulher que atendesse, não me apetecia falar com ninguém. mas era o josé carlos de vasconcelos». não tinha sido um dia bom, mia estava triste. tudo mudou. «era uma coisa passageira, o resultado de um dia mau, pequenas chatices do quotidiano. estava a preparar-me para dormir, tinha anunciado que queria retirar-me do mundo, apagar-me da existência». não se foi deitar. ficou a atender telefonemas, às duas da manhã foi à televisão dar uma entrevista, «num alvoroço bom».
mia é, depois de josé craveirinha, o segundo escritor moçambicano a receber a distinção e a pôr moçambique no mapa literário. «se posso ajudar fico muito vaidoso. moçambique tem a condenação dos países pobres e da periferia, que só aparecem na televisão por razões negativas: por causa das guerras, das fomes, da má conduta. se há uma notícia que o faz surgir por razões positivas, é bom».
dias depois da euforia passar, o autor olha para o prémio com pragmatismo. «sei que o prémio não vai alterar nada. mas é uma grade emoção. recebi chamadas e mensagens de amigos que estão longe. de resto não vai acontecer nada. vou continuar a escrever os meus livros e a fazer o meu trabalho como biólogo. nada se altera». agora, mia está a escrever um romance sobre gungunhana «um herói da resistência anti-colonial». e deverá vir a portugal nos próximos dias e, quem sabe, dar um salto à feira do livro de lisboa, para um encontro com os leitores. este ano deverão ser ainda mais do que o costume.
