Medo de voar: Verdades e mitos sobre aviões

O comandante João Roque responde às dúvidas daqueles que têm fobia de voo.

porque é que o avião voa?

porque tem asas, as asas criam uma força de sustentação, essa força só é gerada porque é dado impulso ao avião para que possa descolar-se na massa de ar. para que essa força seja gerada tem os motores.

e se houver uma avaria em pleno voo?

o avião não cai! por exemplo, ele voa independentemente de ter ou não motores. os motores apenas prolongam a distância de voo. existe o mito que uma avaria é uma coisa fatal e não é. nós explicamos que a avaria é uma coisa comum de acontecer, está prevista e existem outros sistemas que podem substituir os que funcionam mal. tudo o que é importante para um avião, normalmente está em duplicado, em triplicado ou em quadruplicado. se é importante ter energia no avião, não tenho um gerador, tenho três, quatro ou cinco, tenho muitas maneiras de gerar energia eléctrica. isto é válido para a energia eléctrica, para sistemas de navegação, para os pilotos automáticos, para os sistemas de travagem, para tudo. o mesmo se aplica aos pilotos, que nunca é só um, são sempre dois ou três. é graças a esta redundância que se conseguem índices de segurança elevados.

porque é que há acidentes?

os acidentes acontecem porque há intervenção humana e, quer queiramos quer não, a intervenção humana tem sempre a sua componente de falha. o que as pessoas podem ter a certeza é que trabalhamos muito a sério para combater essa falha e essa pequena margem de erro que possa existir.

o que é a turbulência?

é um fenómeno da meteorologia. vivemos num planeta que é muito dinâmico. se olharmos para a massa de água, o mar tem todas aquelas oscilações pelo movimento de rotação da terra. o mesmo se passa na atmosfera, só que nós não visualizamos porque a atmosfera tem uma densidade muito mais baixa do que a água. depois é mais sentido num avião porque enquanto num barco vamos a 6 ou 7 ou 20 nós, num avião vamos a 400 nós, ou seja, a 900 km/h. portanto, sentimos com muito mais força esta dinâmica da atmosfera que provoca a turbulência. mas não faz cair o avião! nós evitamo-la porque causa grande desconforto aos passageiros.

a aterragem e a descolagem são os momentos mais perigosos do voo?

não vou negar que são fases mais críticas do voo porque estamos a passar o peso do avião, que é suportado pelo trem de aterragem, para a asa e ele passa a ser suportado pela tal força de sustentação. ora essa é uma fase que, quer queiramos quer não, é uma fase de aceleração – na descolagem – em que a operação é feita a baixa altitude e por vezes o erro pode acontecer. o mesmo se passa na aterragem. aí vamos transitar o peso do avião da asa para o trem de aterragem quando toca na pista. trata-se de um conjunto de manobras que são muito exigentes e que implicam muito treino da parte das tripulações. mas são fases seguras!

onde é que os pilotos fazem a sua formação?

a formação dos pilotos é muitas vezes suportada pelos próprios e as pessoas questionam-se onde fizemos o curso. mas depois de entramos numa companhia área temos que fazer o curso de qualificação do avião que estamos a voar. esse curso tem inúmeras sessões de simulador – 19 sessões de simulador de três horas cada uma – em que o piloto vai aprendendo a operar com aquele avião em situações de emergência, em situações de falha do motor, fogos a bordo… tudo isto é treinado para que, na eventualidade de estas situações ocorrerem em voo real, sejamos capazes de lidar com elas e resolver os problemas. depois o avião tem muitas redundâncias e é com essas redundâncias que nós somos também habilitados a trabalhar. ou seja, o avião tem dois motores, mas eu tenho de ser capaz de voar só com um. no caso do airbus 340, que tem quatro motores, somos treinados a voá-lo só com dois. depois disto tudo, somos sujeitos a um exame semestral em simulador e temos de cumprir determinados parâmetros do voo. se não os cumprimos não voamos.

quem faz a manutenção dos aviões? pode-se confiar nessa manutenção?

o programa de manutenção do avião tem que ser cumprido à risca porque foi determinado pelo construtor, foi aprovado pelas entidades aeronáuticas e depois há um acompanhamento grande da própria companhia aérea. a actividade de manutenção envolve milhares de pessoas e um conjunto organizado de tarefas.

mas voar é mesmo seguro?

o avião é um meio bastante seguro. a operação que temos não só no universo tap mas no universo da indústria aeronáutica é bastante segura, rege-se por regras muito apertadas e exigentes que as companhias aéreas são obrigadas a cumprir porque são auditadas e porque têm brio em mostrar o seu nível de segurança. só assim é que têm passageiros que confiem nelas. nós estamos a ter um índice de acidentes a diminuir, ao mesmo tempo que temos um índice de número de voos a aumentar. são só boas notícias!

patricia.cintra@sol.pt