Os desafios de Zeinal Bava no Brasil

A nomeação de Zeinal Bava para a presidência executiva da Oi esta semana fez as acções da empresa brasileira dispararem 18% num só dia – um recorde de quatro anos. E os media brasileiros apelidaram o gestor português de ‘Messi’, uma alusão à eleição por quatro vezes como melhor presidente executivo de uma empresa de…

a ida de zeinal bava para a oi teve um início auspicioso, mas a tarefa no brasil será mais complexa do que a dos últimos cinco anos como presidente executivo da portugal telecom (pt). a pt é líder de mercado, tem uma estrutura accionista estável e uma estratégia definida. a oi é o contrário: é a telecom mais endividada, tem o pior desempenho do sector na bolsa brasileira, os lucros estão em queda há dois anos e os accionistas exigem o pagamento de altos dividendos.

o atraso na área móvel, a forte concorrência das rivais tim e vivo – lideradas pelas gigantes telecom itália e telefónica, respectivamente – e a necessidade de elevados investimentos para aproveitar o embalo do mercado brasileiro com o mundial de futebol (2014 ) e os jogos olímpicos (2016) são alguns dos maiores desafios que o gestor terá de enfrentar.

o endividamento é um entrave de peso. zeinal bava tem de tentar reduzir uma dívida líquida que disparou 63% num só ano e ascende hoje a 27,5 mil milhões de reais (cerca de nove mil milhões de euros). ao mesmo tempo precisa de recuperar a confiança dos investidores. os títulos da oi perderam 50% do seu valor desde janeiro, o que contrastou com a concorrência – a vivo valorizou 7% e a tim quase 4%. a maioria das casas de investimento salienta que a contratação de bava é positiva pela sua experiência no sector e pelo sucesso que teve na criação da vivo no brasil, em parceria com a telefónica.

interesses divergentes

mas a relação com os accionistas promete ser desafiadora. muitos analistas consideram que a estrutura accionista da oi está longe de ser sustentável devido aos interesses divergentes dos seus membros. a empresa é controlada pela família andrade gutierrez, com actividade na construção, e pela jereissati, que actua no ramo dos centros comerciais.

os dois grupos usam os dividendos da oi como fonte de financiamento para as suas actividades. além destes, a presença de vários fundos de pensões de empresas estatais e do bndes, o banco de desenvolvimento do brasil, mostra a influência do governo de brasília na companhia.

a distribuição de dividendos será assim outro ponto sensível na gestão. oi é a telecom que melhor remunera os seus accionistas em todo o mundo. isto apesar de os lucros estarem em queda há dois anos consecutivos – em 2012 o resultado líquido recuou 17%. entre 2013 e 2014, a empresa já anunciou que vai distribuir 4 mil milhões de reais (1,3 mil milhões de euros) em dividendos, o que coloca o dividend yield (o dividendo por acção) em 23,5%, três vezes mais que a vivo e seis vezes mais do que a tim.

zeinal bava sempre salientou que a área móvel é estratégica para qualquer companhia de telecomunicações. o agora presidente da oi adiantou ainda no mês passado que a empresa brasileira vai investir seis mil milhões de reais (cerca de 2 mil milhões de euros) na banda larga para oferecer voz, vídeo e internet para as suas redes fixa (onde a empresa é líder) e móvel (onde é a terceira maior operadora atrás da vivo e tim). a nomeação de bava mostra também a crescente aproximação da oi e da pt, que poderá significar mais sinergias.

luis.goncalves@sol.pt