Enquanto os filhos dormem

O tema andava a ser evitado. Mas um dia, um dos membros do grupo Mães, do Facebook, arriscou e falou de sexualidade após o parto. “Foi um sucesso”, conta Filipa Fleming Valle Teixeira, 32 anos, fundadora do grupo sobre maternidade mais famoso da rede social. Os comentários começaram a surgir no monitor e levaram muitas…

naquele dia, falou-se de como reiniciar a vida sexual depois do nascimento de um bebé e “o pseudo-anonimato do mural permitiu às mães falarem abertamente sobre as suas experiências mais íntimas”, conta margarida. mas no grupo aparece de tudo: “até questões sobre depilação a laser”. há quem lhe chame, por isso, o ‘google das mães’, onde se encontra todo o tipo de informações.

esta aventura no facebook começou há menos de um ano, mas já tem cinco mil membros – destes, 20 ou 30 colocam e tiram dúvidas em permanência. são as mães mais assíduas, que numa manhã podem gerar quase meia centena de posts. é, no entanto, à noite que surgem as principais respostas, “momento em que as crianças já estão na cama”, conta a fundadora.

no verão passado, pouco antes de ter o segundo filho, filipa pensou criar um grupo “onde se pudesse falar à-vontade sobre filhos, sem os habituais comentários sobre futebol ou as politiquices que surgem no facebook”, mas não imaginou que, em pouco mais de um mês, reunisse 700 mães em torno de um objectivo: “falar sobre maternidade”. de um conjunto de pessoas conhecidas, o grupo rapidamente evoluiu para uma espécie de central de informação de temas que interessam às mulheres, com posts dedicados a dietas, a massagistas ou aos melhores locais para passar férias. e há até quem procure emprego: “há muitas mulheres desempregadas que estão em casa o dia todo e participam activamente. algumas chegam a arranjar trabalho”.

é por esta razão que margarida – 30 anos, mãe de dois filhos e à espera do terceiro – sublinha que o principal propósito do grupo é ajudar. e conta como foram desencadeadas acções de voluntariado a partir daquele mural: “já arranjámos emprego, já arranjámos dinheiro, já ajudámos mães através das nossas orações. conseguimos um pouco de tudo”.

este inverno, por exemplo, muitas mulheres em licença de maternidade acabaram por usar o grupo como forma de ligação ao mundo. margarida explica que, como choveu muito, “as mães viram-se fechadas em casa” e era a partir daqueles comentários que conseguiam aperceber-se do que se passava lá fora. “funcionou até como terapia”.

conselhos dados de madrugada

tanto filipa como margarida, uma das primeiras 15 mães a aderirem a esta ferramenta, perdem mais de uma hora por dia ligadas ao facebook, em ‘grupo mães – conversas, ajuda, experiências’. a fundadora tem como função verificar se há polémicas geradas. “quando há picardias, elimino esses posts. quando alguém coloca uma questão política, que possa criar burburinho, faço o mesmo”. este controlo já levou muitas mães a acusarem filipa de lhes limitar a liberdade de expressão, mas a fundadora recorda que este “é um grupo fechado, em que cada novo membro, mesmo depois de convidado, só entra após aprovação”.

ainda assim, as mães protegem a identidade dos filhos tratando-os apenas pelas iniciais. raramente há nomes, mas os casos reais estão lá. “há histórias de mães que partilham a sua experiência a meio da noite, por exemplo, quando os bebés não dormem, sofrem de cólicas e estão irrequietos, e que encontram outras na mesma situação. depois, vemo-las trocarem conselhos às quatro da manhã e há até quem diga: ‘vou dar banho ao bebé e volto para contar se ajudou’”.

os laços criados entre os membros são tão fortes que, em menos de um ano de existência, o grupo já organizou dois piqueniques, um no porto e outro em lisboa, e um almoço de comemoração do dia da mãe. “foi muito engraçado ver as mães que só se conheciam de nome falar umas com as outras e também conhecer os filhos de que tanto ouvimos falar”, conta margarida.

o próximo passo para gerar maior interacção entre os membros é criar um blogue onde poderão aceder a promoções de marcas para crianças, concorrer a passatempos e receber aconselhamento pediátrico. filipa explica que, sendo a publicidade proibida no grupo, esta é a forma de canalizar a vertente mais comercial em torno da maternidade para outro local na internet. o grupo “mantém-se como está”; o blogue surge até ao final do ano.

francisca.seabra@sol.pt