ora, deixando de lado o optimismo inabalável ou a mitomania perigosa do mandatário francês, fiquei a pensar se seria possível fazer com que as grandes frases, aquelas que ficam na memória, tivessem um lado positivo, concretizando a velha ideia de tanto repetir uma mentira até se converter numa verdade. no caso de esta hipótese ser plausível, a solução para os nossos problemas podia estar na repetição constante da declaração de hollande. sugiro, então, que os líderes europeus repitam a frase: «a crise europeia já acabou». todos juntos! já agora, para dar mais solidez à afirmação, acrescentem: «metam na cabeça que não há desemprego na europa». tentar não custa. talvez na enésima vez que repitam o mantra acordemos numa europa sem problemas económicos e financeiros.
voltar atrás
em resposta à pergunta de uma jornalista à saída de um espectáculo de ballet, vladimir putin e a mulher, lyudmila, falaram sobre o motivo principal para não serem vistos em público há mais de um ano. a situação foi obviamente encenada de modo a dar a notícia do divórcio do presidente da rússia como um evento não político e tão natural como beber água. correm entretanto rumores de que putin se terá apaixonado por alina kabaeva, uma lenda viva da ginástica rítmica. acredito nos boatos por uma razão simples. aos 30 anos, alina kabaeva é uma versão actualizada de lyudmila. a parte irónica disto é putin aos 85 anos voltar a ter uma lyudmila na sua vida, que será alina aos 55. mas o que conta é o presente. ou um passado remoto, que se estenderá até à figura modelar da querida mãe do presidente russo. só assim se explica que tenha deixado escapar a bela ucraniana anna bessonova, que, é certo, também não foi medalha de ouro nas olimpíadas.
fartinha
fui e sou uma admiradora de stephen fry. fiquei cheia de compaixão e respeito quando o actor e escritor britânico fez o filme the secret life of the manic depressive, em que falava sobre a doença bipolar. já antes desta revelação tinha dado sinais públicos do descontrolo que a perturbação lhe causava. por exemplo, em 1995, três dias depois da estreia de cell mates, uma peça escrita por simon gray, abandonou o espectáculo. durante semanas ninguém soube do seu paradeiro. o aspecto positivo foi ter-se tornado um divulgador da doença. mas agora volta a público para falar numa entrevista sobre as suas tentativas de suicídio falhadas. penso obviamente na injustiça e, de uma maneira egoísta, no desperdício que é uma pessoa com tanto talento e inteligência sofrer deste transtorno. no entanto, a vida tem destas coisas. é por isso que estou cansada deste exibicionismo de fry. por um lado, percebo. por outro, já não o posso ver nem ouvir.
reclamar, sempre
dantes não era assim, mas os tempos parecem exigir das pessoas mais pacatas e menos desconfiadas uma acção mais espevitada. há dias quiseram cobrar-me cinco euros por cinco pêssegos pequenos. ri-me e perguntei se eram de ouro, pronto, de prata. mas para chegar a este ponto zen de sorrir a quem quer aldrabar o próximo é preciso pedir muitas vezes o livro de reclamações. às vezes não têm, outras tentam amenizar a queixa, outras olham para baixo, como se o cliente não estivesse presente nem estivesse sequer a falar quanto mais a reclamar. a publicidade enganosa está em alta. um brushing que custa dez euros com tudo incluído até massagem, afinal é 15 porque é tudo incluído, sim, tudo menos o champô, que são mais cinco. são aldrabices de desespero, pequenos roubos em que o cliente incauto participa. e assim se passam estes dias de falta de respeito. passe para cá o livro de reclamações e já agora o telefone que assim aproveito e ligo à asae.
o psicopata e o canibal
não demorei a gostar de bates motel, mas não fui capaz da necessária ‘suspensão da descrença’ no episódio em que norman descobre uma chinesa acorrentada numa cave. mesmo naquela cidade de maus para onde se mudaram norma e norman bates, mãe e filho celebrizados pelo psycho que conhecemos por alfred hitchcock, parecia haver limites para as possibilidades maléficas. mas a série recuperou do episódio. já hannibal demorou seis episódios a aquecer. ou a concentrar as atenções no psiquiatra canibal interpretado pelo viking mads mikkelsen. deve haver uma razão qualquer para os argumentistas terem dado tanto destaque à personagem menor que é o detective que investiga os homicídios e delira muito, etc. por fim, hannibal passou a ser o centro e a participar nos melhores diálogos, por exemplo, com a sua terapeuta misteriosa, a ex-x-files gillian anderson. para mim, hannibal começou agora. bates motel está a um episódio do fim.