o clã assad pertence à minoria xiita que, através das forças armadas, alcançou o poder. na síria independente, as grandes famílias sunitas dominavam os negócios e a política. mas os alauitas, uma minoria marginalizada, encaminhou-se para lá através da carreira militar. com um golpe de estado, em 1970, hafez al-assad, general da força aérea, tornou-se ditador do país e impôs-lhe o socialismo do baath.
aterrorizando e negociando, domesticou rivais e cúmplices, governou sozinho durante 30 anos e transmitiu o estado ao seu filho, bashar. dispondo de um complexo aparelho de inteligência e controlos, os al-assad neutralizaram a oposição doméstica, tornaram-se senhores absolutos do país e estenderam uma influência duradoura ao líbano. foram tolerados até que a morte de hariri levou franceses, americanos, sauditas (e israelitas…) a reagir finalmente à sua hegemonia.
tradicionalmente, os xiitas são os oprimidos: foram os perdedores da história islâmica, as plebes, os marginais. as cidades antigas do médio oriente – bagdade, damasco, alepo – eram governadas por dinastias sociais e políticas sunitas. mas na síria hoje é o contrário – são os xiitas minoritários que governam; os xiitas que no irão são maioritários e dominam desde a queda do xá; como mandam no iraque, desde a guerra e invasão americana.
por isso, o iraquiano al-maliki – que não é um fantoche do irão – receia a queda de bashar; e o irão, para mostrar o seu pulso e influência, apoia-o com dinheiro, armas e voluntários; e o hezbollah também lançou as suas milícias na guerra civil do lado do governo de damasco.
contra a casa de saud e os seus protegidos do bahrein e do kuwait mais o qatar, o egipto de morsi e a turquia de erdogan que apoiam a oposição síria sem se preocuparem com as influências radicais.
a equação complica-se para os euro-americanos: washington fica com os nervos em franja, quando vê coligações com os combatentes religiosos próximos da al-qaeda; os europeus, apesar do peso do humanitarismo democrático, têm as lições da líbia – os ditadores são maus mas às vezes a seguir a eles vem o caos.
e os russos, depois de terem abandonado milosevic e kadhafi, parecem agora empenhados em defender o seu velho (e único) aliado médio-oriental. desta vez fizeram uso do veto nas nações unidas e ameaçam fornecer a bashar os sofisticados mísseis s-300 que tornarão muito problemática uma no-fly zone, como a que levou ao fim de kadhafi.
os europeus estão divididos, o habitual da união europeia. mas com o regresso dos estados unidos de obama a uma linha de prudência na intervenção, é natural que o conflito se prolongue.