Comida no lixo é de mau tom

O Papa criticou há dias que se deite comida fora, dizendo que é roubar comida aos pobres. Há alguma regra de educação sobre isto? Camila Sousa Martins

o papa tem toda a razão: deitar comida fora é realmente estar a roubá-la a quem não a tem – e não é apenas pecado, mas também uma feia falta de elegância.

fui educada assim de pequena, quando pelo menos aqui em portugal os consumismos exibicionistas eram muito mal vistos. mas parece que agora, com a sociedade da abundância e o consumismo instalado (enfim, falo de antes desta crise), se perdeu essa noção. pode pensar que é snobeira minha, mas até tenho reparado que pessoas mais humildes, talvez por ainda recordarem maus tempos que passaram ou ouvirem as gerações anteriores contá-lo, são hoje as que mais desperdiçam. lembro empregadas domésticas a quererem deitar para o lixo as sobras de qualquer refeição, mesmo quando davam outra excelente refeição.

os velhos princípios de educação continuam a valer muito bem. as pessoas devem servir-se duas vezes do prato principal, doseando-as de maneira a não haver sobras. esta ideia das comidas empratadas partiu de cozinheiros sem referências sociais e com cursos técnicos (passe outra vez a snobeira). e quando sobra comida, e estiver ainda boa, é levá-la outra vez à mesa. provavelmente, até, mais do que uma vez.

ainda me lembro de o meu pai perguntar, como bom alentejano que era, e ao ver um prato ser insistentemente repetido: «quantas vezes já veio este toiro à praça?». pois ia até acabar completamente. de resto, a moderação sempre foi sintoma de distinção.