Perdido entre o Douro

João Portugal Ramos apresentou os seus novos vinhos e deixou-nos uma dúvida: Alentejo ou Douro? A resposta só pode ser uma: os dois.

joão portugal ramos apresentou os seus novos vinhos num jantar que se traduziu numa autêntica viagem por zonas tão diferentes como o alentejo, o douro e a região do vinho verde. o produtor não pára desde que em 1990 plantou os primeiros cinco hectares numa das encostas do castelo de estremoz. daí para cá, o projecto tem vindo a crescer e o seu mais recente sonho ergue-se no douro superior, na quinta de castelo melhor, onde a duorum é o resultado da sua parceria com josé maria soares franco.

a compra destes terrenos é uma prova inequívoca da vontade destes dois homens em avançarem com o projecto, e os contratos de compra chegaram a ser assinados à mesa de um café em vila nova de foz côa, em simples folhas de papel que, na altura (2007), cobriam um frigorífico do estabelecimento.

este espírito de querer acaba por ser traduzido nos seus vinhos, que abriram o jantar com a primeira surpresa. um alvarinho de 2012 da sub-região de monção e melgaço, que se revelou muito agradável, aromático e com notas de frutos tropicais. um longo final de boca dava-lhe ainda maior esplendor.

o vinho que se seguiu trouxe-nos às origens de joão portugal ramos. era o tinto estremus 2011, do alentejo, que levou ao nosso palato um aroma intenso a fazer lembrar amoras e groselhas. muito elegante, evidenciou ainda um final longo.

daqui até ao douro foi um pequeno salto. dois vinhos da duorum vieram animar ainda mais o jantar e os seus nomes, o. leucura, traduzem a preocupação de salvaguarda da zona de paisagem protegida onde se insere a quinta, e onde existem, por exemplo, águias-reais e águias de bonelli. o. leucura é o nome latino de um pássaro em perigo de extinção que aí existe. nos dois o. leucura, o enólogo josé maria soares franco fez dois vinhos de cotas diferentes; um à cota 200 e o outro à cota 400. o primeiro, mais junto ao rio onde a temperatura é maior, apresenta uvas mais concentradas e revela frutos pretos maduros e aromas florais. poderoso e com taninos firmes, anuncia uma longa evolução. o segundo, de terras mais altas e frescas, é muito semelhante, mas apresenta uma maior frescura, acidez equilibrada e final persistente, que também anuncia grande longevidade.

para terminar, o fruto de um 2011 de excepção trouxe até nós um porto vintage de aroma elegante, com notas de ameixa, resinas e cedro. muito equilibrado e elegante, honrou um jantar onde as novidades evidenciaram elevado nível e deixaram saudades até uma próxima prova. a não perder!

jmoroso@netcabo.pt