apesar de estar para já afastado aquele que era o cenário mais extremo da crise política desta semana, a hipótese de queda do governo será um ‘fantasma’ constante nos próximos meses, seja pelos sinais de fragilidade da coligação, seja pela pressão de novas eleições feita pelo ps.
porém, a eventual queda do executivo, a entrada de um governo de gestão – que não terá capacidade para aplicar medidas estruturais como a reforma do estado – ou mesmo os meses de espera até às eleições e um novo orçamento não vão impedir os credores de exigir o cumprimento das condições do resgate, apurou o sol.
nesse cenário, a troika irá obrigar os partidos do arco governativo (psd, ps e cds) a assinar um compromisso para cumprir o programa, o funcionamento das revisões trimestrais e o envio das tranches. aliás, esta figura foi utilizada no programa de resgate português: foi negociado pelo então governo de gestão de josé sócrates, mas com o aval do psd e do cds.
manter a normalidade
a troika pretende manter a todo o custo a normalidade do programa, para não alarmar os mercados e evitar uma nova vaga de turbulência no euro, num momento em que a grécia está de novo em risco de não cumprir as metas e após o chipre ter pedido a renegociação do seu resgate.
as eleições na alemanha em setembro e as eleições para a presidência da comissão europeia em 2014 são dois factores de pressão para evitar novos males na zona monetária única.
a manutenção do governo de passos coelho deverá assim viabilizar a oitava avaliação da troika – que arranca já a 15 de julho mas que esteve em risco de ser adiada caso o governo caísse.
a crise do euro tem mostrado que as quedas de governos podem atrasar mas não inviabilizam o andamento dos programas da troika. a grécia é exemplo disso. o fim do governo de george papandreou em novembro de 2011 e a instauração de um executivo de transição até às eleições de abril do ano seguinte não impediram o governo provisório grego de concluir não só a reestruturação da dívida do país como ainda negociar um segundo resgate.
a velocidade da crise política em portugal acabou por apanhar de surpresa os credores externos, embora as crescentes dificuldades entre a coligação estivessem patentes nos relatórios trimestrais, com sucessivos avisos sobre o risco político e social das medidas.
a semana provou ainda que a turbulência na zona euro está longe de estar resolvida e que os mercados financeiros não estão convencidos da eficácia das medidas adoptadas pelos líderes europeus. só a hipótese de o país ir para eleições antecipadas – uma ideia dada como certa na terça-feira quando portas anunciou a demissão – provocou um verdadeiro crash na bolsa, levando os juros da dívida a bater máximos de oito meses.
impacto superior ao pec iv
na quarta-feira, o psi 20 – índice que agrega as vinte maiores empresas cotadas – fechou a sessão a desvalorizar 5,4%, mas chegou a cair mais de 7% durante o dia, o pior desempenho desde a falência do banco lehman brothers, em setembro de 2008.
a banca foi o sector mais penalizado pelo ‘efeito portas’, com desvalorizações acima de 10%. o bcp e o banif, ambos intervencionados pelo estado, foram os mais prejudicados. num único dia, a bolsa lisboeta viu evaporarem-se 2,5 mil milhões de euros.
o impacto desta semana acabou até por ser superior ao de crises anteriores. quando o pec iv foi chumbado, um evento que abriu portas a novas eleições e tornou o resgate da troika praticamente inevitável, a bolsa de lisboa caiu apenas 1,8%, três vezes menos do que na quarta-feira.
semelhante efeito ocorreu nos juros da dívida pública portugueses, que subiram de 6,5% para 8%, atingindo um máximo desde novembro passado, tendo recuado ontem para a casa dos 7%.
a crise política desta semana criou uma pressão adicional sobre os juros nacionais, que estavam em alta desde meados de maio, quando a reserva federal norte-americana sinalizou uma travagem nos estímulos económicos. entre 20 de maio e ontem, os juros a 10 anos da dívida portuguesa subiram 50% (de 5,2% para 7,6%).