SOL&SOMBRA

O mais e o menos da semana visto por José António Lima.

SOL

António José Seguro

Paulo Portas esteve prestes a entregar-lhe o poder de bandeja, quase fazendo cair o Governo e colocando no horizonte imediato a realização de legislativas antecipadas. De qualquer das formas, essa perspectiva ficou mais próxima com este Governo PSD/CDS mais fragilizado. mas se vencer eleições antes de 2015 – com a fraca imagem que o país tem dele e a memória recente do desastre governativo de Sócrates – dificilmente chegará à maioria absoluta. Vendo-se obrigado a formar um Governo de bloco central com um PSD sem Passos e a prosseguir, obrigatoriamente, a política imposta pela troika. Será um presente por ele muito desejado, mas bem envenenado.

&SOMBRA

Passos Coelho

Duas demissões quase simultâneas dos dois ministros de Estado equivaleram a dois tiros em cheio no porta-aviões do Governo. Reagiu bem, com o sentido de responsabilidade e o sangue-frio político que faltaram a Portas, evitando uma crise que condenaria já o país a um segundo resgate e agravaria a austeridade para limites ainda mais intoleráveis. Mas terá que lidar agora com uma coligação enfraquecida, um Governo ligado à máquina e dois perigos à vista: a aprovação dos cortes de 4 mil milhões e o mau (péssimo?) resultado nas autárquicas.

Vítor Gaspar

Chegou a ministro com a sina de ter que aplicar um memorando de resgate financeiro do país com medidas muito duras e impopulares. Conseguiu fazê-lo, apesar de muitos bloqueios, e recuperar a imagem externa de Portugal. Mas quem desiste a meio de uma tarefa nunca fica bem no retrato. E alguns recados ambíguos da sua carta de demissão são excessivos e desnecessários – em particular, para Passos Coelho.

Paulo Portas

Esteve sempre condicionado pela duplicidade de querer estar no Governo, para se valorizar a si e ao papel do CDS, mas de não querer aplicar o programa que aprovou com a troika e as medidas que afectavam o seu eleitorado. Fez cenas sucessivas – com a TSU, os impostos, as pensões, o guião da reforma do Estado, etc. – até à total irresponsabilidade do seu gesto de ruptura. Sem consultar sequer o seu próprio partido, que o obrigou, logicamente, a recuar em toda a linha. É o grande derrotado desta crise. E colocou-se num gueto político do qual dificilmente sairá.