as eleições alemãs não vão trazer uma alteração, nem o abrandamento da política de austeridade que tem dominado a gestão da crise na zona euro e os países resgatados devem seguir o exemplo do tribunal constitucional português e ter “coragem” para se “opor” aos excessos da troika.
estas são duas das maiores convicções de gertrud höhler, conselheira do ex-chanceler helmut kohl, consultora de várias empresas alemãs e suíças e conhecida por ser uma das mais ferozes críticas de angela merkel.
em entrevista ao sol, no âmbito do lançamento em portugal do seu livro estratégia merkel, hohler diz ter “pouca esperança” de que a eleição de um novo governo alemão a 22 de setembro vá alterar a política europeia de resolução da crise ditada por berlim. uma política, refere, baseada na austeridade, de “carácter punitivo” e que está a tornar a zona euro “numa economia estatal e num sistema totalitário”.
“se merkel ganhar, após setembro não vai haver um volte-face na europa”, adianta a autora do livro cujo título original é a madrinha, numa alusão à máfia retratada em o padrinho.
obsessão com o poder
na obra, hohler tenta desmontar a estratégia merkel, uma chanceler “obcecada com o poder”, que abdica dos princípios políticos e colaboradores fiéis para atingir os fins e cuja noção de democracia é fraca devido à sua juventude no sistema comunista e totalitário da alemanha de leste. na noite da queda do muro de berlim em 1989, merkel em vez de ir festejar decidiu ir à sauna, lê-se no livro.
“merkel subestimou e continua a subestimar os efeitos da crise do euro”, salienta a comentadora alemã que acrescenta que a chanceler “está menos alarmada” que outros líderes europeus sobre as consequências na europa da austeridade. “merkel sempre colocou os interesses alemães acima da europa e hoje não se contenta em ser a rainha da europa, mas pretende ser a imperatriz da europa”, opina.
o sucesso e a aceitação de angel merkel junto do eleitorado alemão deriva do facto de o país ter sido o mais beneficiado ao longo da crise com financiamentos a níveis historicamente baixos, mas também porque “a alemanha tem um fraquinho por líderes autoritários”. “os alemães estão muito confortáveis e agrada-lhes a situação actual, mas o país vive num silêncio autoritário porque merkel não dá qualquer informação à população sobre os seus planos”, refere.
fraca contestação
a conselheira de kohl salienta estar surpreendida por “não existirem mais vozes críticas contra o silenciamento e o calculismo” de angela merkel, uma responsável que tem beneficiado da pujança e saúde da economia alemã para o qual pouco ou nada contribuiu. “recebeu-a como prenda e aproveitou-a bem”, adianta.