o presidente foi desestabilizador e colocou o governo do país a prazo. ao sugerir eleições antecipadas com um calendário a definir a partir de junho de 2014, cavaco propõe que portugal viva durante um ano com um governo sem crédito nem autoridade e que se entre já num caótico clima de pré-campanha eleitoral. seria o bom e o bonito.
o presidente foi propositadamente ambíguo na sua declaração e lançou a confusão sobre as suas palavras. cavaco recorda que «o actual governo se encontra na plenitude das suas funções» mas não esclarece se e quando dará posse aos ministros envolvidos na remodelação. e ameaça que «existirão sempre, nos termos da constituição, soluções para a actual crise política». quais? eleições antecipadas ainda este ano, apesar de isso «significar um retrocesso naquilo que já foi conseguido e tornar necessário novo programa de assistência financeira», como não se cansou de repetir na primeira parte da sua comunicação? um governo de iniciativa presidencial liderado pela tal «personalidade de reconhecido prestígio que promova e facilite o diálogo» (provavelmente, o governador do banco de portugal, carlos costa, o monti que cavaco gostaria de ter), governo esse que só por milagre teria apoio parlamentar? acredita mesmo nessa ilusão? fez o favor de não nos esclarecer.
o presidente foi excessivo nas propostas e extravasou as suas competências. percebe-se que se sinta frustrado e enganado pela desistência de vítor gaspar, pela irresponsabilidade de portas, pela permanente instabilidade do governo psd/cds. e percebe-se, também, que tenha sentido ser este o momento de sair por cima de uma popularidade que andava muito por baixo.
mas só pode propor, não impor, acordos aos partidos, sejam de salvação nacional ou não. e não pode ameaçar com «soluções jurídico-constitucionais» que são, na prática, inexequíveis. por muito que goste da encenação.
jal@sol.pt