tivemos a carta de soares a pedir a demissão do primeiro-ministro e, com o mesmo intuito, a carta das 70 personalidades contra passos coelho. há pouco, tivemos as cartas de demissão de gaspar e depois de portas. chegou a hora de perceber esta ânsia epistolar. num ambiente de desconfiança generalizada, é natural optar por escrever em vez de falar. as palavras ditas sabemos que o vento as leva. mas as escritas em público ficam. não é garantia de que não sejam mal interpretadas, mas é uma forma mais definitiva, ou mais resistente à especulação, de deixar a sua marca. assim ninguém pode dizer que não avisou (a troika), que não exigiu (a demissão de passos), que não se demitiu (gaspar e portas). saberemos que saímos da crise quando não houver necessidade de as escrever.
intolerância
dana stevens, na slate, resume na perfeição o meu pensamento reprimido ao longo de anos sobre a utilização de chinelos de plástico (conhecidos por havaianas) na cidade. afinal de contas, cada um calça e veste o que entende e há que respeitar o mau gosto de cada um. mas a situação chegou a um ponto catastroficamente inestético e muito pouco higiénico. os chinelos de plástico invadiram a cidade com o seu chlop-chlop-chlop insuportável. mas o pior não é o som. é a visão infernal de plantas de pés sujas e a atitude dos utilizadores dos chinelos. apesar de estarem já descalços, ainda tiram os chinelos à frente de toda a gente. sei que estou a ser intolerante, mas por que razão há-de a maioria chineleira impor-se à minoria apreciadora do sapato ou da sandália mais protectores? na praia, em casa, para ir só ali e voltar, está bem. mas não para andar pela cidade, por favor. nunca pensei dizer isto, mas, como se diz no artigo, prefiro as crocs.
entretanto, no brasil…
… aconteceu um episódio de violência desportiva extrema pouco habitual, até para os elevados padrões de violência em estádios de futebol a que infelizmente nos habituámos. a associated press deu a notícia de que o árbitro otávio da silva expulsou o jogador josenir abreu e que os dois se envolveram numa briga. o árbitro esfaqueou o jogador, que morreu a caminho do hospital. quando os amigos e familiares souberam da morte do futebolista, voltaram para o campo e apedrejaram o árbitro até à morte. no fim, decapitaram-no e puseram a cabeça num espeto, como se estivessem em 480 a.c. na batalha das termópilas ou num episódio da guerra dos tronos. a imprensa regional deu esta notícia, que parece não ter sido completamente confirmada, não sei se por incapacidade se por incredulidade. até à data em que escrevo, apenas uma pessoa foi detida. o caso é assustador. circulou por aí um vídeo de uma carla a dizer que não vai ao mundial. ai não vou, não.
tate no youtube
a tate britain, em londres, tem estado a divulgar no youtube uma série de vídeos intitulados ‘meet 500 years of british art’ sobre a sua importante colecção permanente. o objectivo dos brevíssimos filmes (não mais de três minutos e meio) é o de mostrar uma nova forma de apresentar a colecção, cronologicamente, por data da sua produção ou primeira mostra ao público. a exposição inclui obras de 1540 a 2011. cada sala reúne quatro a cinco décadas de retratos, pinturas religiosas, paisagens, etc. interessa voltar a ver obras que não sabíamos ser contemporâneas umas das outras para termos uma visão de conjunto do que era produzido numa certa época. pelos vídeos, podemos ver como são diferentes as perspectivas dos artistas, como o traço é completamente distinto, mas sobretudo como o ponto de vista difere tanto. não é novidade que não é por vivermos no mesmo tempo que somos parecidos uns com os outros. mas na arte nota-se melhor.
muitas irmãs
a série de ficção científica de produção canadiana e norte-americana orphan black tem animado os meus dias. a actriz tatiana maslany tem sido premiada pela sua actuação polivalente. sarah manning é uma órfã rebelde que um dia percebe que é idêntica a uma agente policial que aparece morta em circunstâncias estranhas. sarah rouba a identidade da sua gémea elizabeth childs e com isso consegue enganar o gerente da sua conta bancária. pensávamos que a história seria sobre uma confusão bizarra de identidade e semelhanças físicas quando aparece mais uma rapariga alemã, idêntica às outras duas. como três versões não eram suficientes para a confusão, apareceram mais duas, uma mãe instável e uma cientista tímida. quando pensávamos que tínhamos ficado por aqui, surgiu mais uma igual às outras, loura e violenta. até agora, é isto. a trama é divertida e possivelmente estaremos perante uma das séries televisivas mais baratas de sempre.