Atento no Twitter

Um decreto do Vaticano que anunciou que o Papa Francisco irá conceder indulgências aos fiéis através da rede social causou um enorme alvoroço.

a reacção é aliás própria de um mundo que reage de imediato seja ao que for. não se trata de perdoar pecados mas de conceder uma graça aos fiéis que não vão poder participar na jornada mundial da juventude no rio de janeiro. a hipótese do reconhecimento papal online só se coloca aos seguidores da conta @pontifex (são sete milhões) que participem com devoção e fé nesta semana dedicada aos mais novos. a tentativa de o papa chegar aos fiéis faz sentido. o papa quer chegar às pessoas onde quer que estejam. e estão no twitter, no facebook, no instagram, etc. os políticos perceberam esta realidade, as empresas começam agora a percebê-la melhor. há primaveras feitas a partir do facebook. o papa tenta assim privilegiar a atenção à proximidade física. é melhor estar longe e atento do que perto e distraído.

não chega

a notícia de que portugal ia atribuir vistos dourados a estrangeiros que comprem uma propriedade de valor superior a 500 mil euros não me inspirou confiança. imaginei logo gangsters russos a esfregar as mãos de contentes com a perspectiva de viver aqui na legalidade. sou completamente favorável à vinda de estrangeiros para portugal. mas as contas bancárias recheadas não me fascinam. e não são só os milionários estrangeiros que vão resolver os nossos problemas. é, por isso, importante investigar as motivações de quem investe estas quantias num país europeu. o visto renovável por cinco anos (depois será permanente) é uma entrada para o espaço schengen. fiquei mais tranquila depois de ler que o serviço de estrangeiros e fronteiras (sef) impediu membros das máfias chinesas de se instalarem em portugal. se o sef está atento, não pensemos mais no assunto. na verdade, a asae e o sef são imprescindíveis ao país. o resto depende.

cultura de negociação

em mais um comunicado ao país que ninguém momentos antes se atreveu a prever, cavaco silva afirmou o seguinte: «não se alcançou a solução ideal, mas todos reconheceram a importância de uma cultura política de compromisso». tendo em conta as divergências políticas evidentes durante a passada semana, não sei em que se possa traduzir o optimismo do presidente da república. a este propósito, um dos 45.427 comentadores também referiu uma «cultura de negociação» que seria necessária para superar a crise. não pode haver nada contra esta maneira adulta de viver. mas também não é preciso reflectir sobre o significado da palavra ‘cultura’ e até de ‘negociação’ para saber que o conceito é quase inexistente num país de respeitinho pelo autoritarismo e pouca consideração pela autoridade. uma cultura de negociação pressupõe um país adulto, livre e democrático. para portugal, no entanto, negociar ainda não é um meio. é, por enquanto, um fim.

amor de mosquito

é comum ouvirmos dizer que os mosquitos gostam mais de certas pessoas do que de outras. gostam, aliás, tanto que as picam e deixam borbulhas enormes como prova do seu amor. a lenda rezava que estaria tudo no sangue. os mosquitos eram atraídos pela sua ‘doçura’. mas os vinte anos de estudo do biólogo molecular, l.j. zwiebel da universidade de vanderbilt, apontam para outras explicações. a partir da leitura de um artigo no the wall street journal sobre os alvos humanos dos mosquitos, ficamos a saber que o odor e a temperatura da pele são mais importantes para os que picam. as suas vítimas potenciais são as grávidas e os gordos porque emitem mais energia e calor. mas os alvos mais apetecidos são aqueles que passam mais tempo fora de casa. quem sai pouco de casa tem a pele mais protegida, menos quente, mais limpa. o que afasta os mosquitos é a clausura esterilizada. quanto mais fechados, menos expostos. parece óbvio mas é verdade.

uma paródia perigosa

alfredo stranieri, conhecido por ‘assassino dos classificados’, porque respondia a anúncios e matava quem os publicava, terá casado com germain gaiffe, um dos homicidas mais violentos de frança. as testemunhas terão sido o célebre carlos, o chacal, e dieudonné m’bala, comediante francês anti-semita e homofóbico, quem sabe se homossexual mas de certeza tonto, que apareceu na boda presidiária de vestido branco. estava a pensar que assim não se estragavam duas casas quando percebo que o casório não passou de uma farsa anti-gay à aprovação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo em frança. não deixa de ser curioso ver estas quatro criaturas a partilhar o mesmo conjunto de celas. naquele jogo do ‘qual não pertence ao grupo?’ temos o comediante como o elemento que destoa. os outros três são assassinos. m’bala é só o bobo de uma corte perigosa de extrema-direita. ainda não matou ninguém, mas é possível que seja só por acaso.