não é só um governo remodelado que se apresentará à troika em setembro, quando arrancar a próxima avaliação do programa português. do lado dos credores externos, serão mais as caras novas do que as antigas. mas, apesar das mudanças em ambos os lados, a política e a estratégia deverão manter-se: o governo pedirá mais flexibilidade nas metas e a troika irá pressionar a aplicação da reforma do estado.
esta semana foi conhecida a substituição dos chefes de missão em portugal da comissão europeia (ce) e do fundo monetário internacional (fmi), as duas instituições mais importantes da troika, responsáveis pelo financiamento e pela definição das políticas económicas. o bce é o membro menos activo: não faz relatórios independentes e centra-se apenas na banca, a quem oferece liquidez fora do programa.
depois de thomsen, selassie
a maior surpresa foi a saída de abebe selassie da missão do fmi, pouco mais de um ano depois de assumir o cargo. foi para um lugar no departamento africano do fundo e será substituído pelo indiano subir lall.
a nova cara do fmi em portugal foi chefe de missão na alemanha e na holanda, sendo responsável pela equipa que produz o world economic outlook (weo), a publicação mais conhecida do fmi, que contém as previsões para a evolução da economia mundial.
o responsável do fmi tem ampla experiência tanto em países desenvolvidos como em economias emergentes. exerceu funções na coreia do sul, malásia, roménia, rússia e filipinas em nome da instituição de washington.
nas suas últimas intervenções, subir lall defendeu a suspensão de austeridade na holanda este ano, para reanimar o consumo das famílias e retirar a economia da recessão. recentemente lembrou ao governo de angela merkel que o destino da alemanha está «proximamente» ligado ao da zona euro e que berlim não deve subestimar os riscos de uma crise mais profunda na região.
do lado da comissão europeia, já era conhecida há semanas a saída de juergen kroeger, que se reformou. bruxelas nomeou para o seu lugar john berrigan, chefe do departamento da estabilidade financeira da direcção geral de economia e finanças da comissão europeia. berrigan tem estado envolvido na criação e implementação da união bancária, sendo um dos representantes da ce mais requisitados para conferências sobre esta matéria.
chuva de críticas no fmi
apesar da remodelação do governo e da troika em portugal, a tensão entre as partes deverá manter-se na próxima avaliação. o executivo de passos coelho quer promover um ‘novo ciclo’ e pretende ganhar margem para algum estímulo económico ou alívio do rendimento das famílias. algumas hipóteses são a suavização das metas do défice orçamental para este ano e para 2014 ou a redução da reforma do estado de 4,7 mil milhões de euros.
do lado da troika, as eleições alemãs em finais de setembro tornam mais difícil o anúncio de novas flexibilizações por parte da comissão europeia. do lado do fmi, um grupo de 11 países emergentes liderado pelo brasil absteve-se pela primeira vez na votação de entrega de uma nova tranche à grécia, opondo-se à proposta de fazer uma nova reestruturação de dívida a atenas. as críticas ao optimismo do fundo na crise europeia e os excessos de dinheiro canalizado para a zona euro, a segunda região mais rica do mundo, poderão significar alguma mudança de rumo.
luis.gonçalves@sol.pt