Putin e Cameron

Por uma feliz coincidência, vimos imagens de Vladimir Putin e de David Cameron no mesmo dia de Verão outonal. O Presidente da Rússia apresentou-se a pescar na Sibéria e as televisões aproveitaram para mostrar outros malabarismos publicitários de Putin a caçar, a andar a cavalo, etc.

o primeiro-ministro britânico foi fotografado no mercado de aljezur às compras com a mulher. dei por mim a comparar as imagens do líder de um estado autoritário e antidemocrático e do líder de uma democracia livre e aberta. no caso de putin, o homem é o eterno rapaz aventureiro e explorador. no caso de cameron, o homem é companheiro da mulher no quotidiano. haverá quem veja na diferença uma prova da superioridade do ocidente. outros apontarão a sua decadência e falarão da domesticação do macho, da feminização da sociedade, etc. talvez a civilização, para o ser, tenha de incluir uma forma bem-vinda de declínio. embora não seja fã de lulas, prefiro de longe cameron.

novidade real

as imagens do bebé real, que conhecemos finalmente por george alexander louis, o príncipe de cambridge, provável george vii, correram mundo e suscitaram milhões de comentários. a ocasião é de festa para o reino unido e uma oportunidade para comparações com o passado. o vestido da duquesa tinha as mesmas bolinhas com que diana spencer aparecera há 31 anos. sugiro que descansemos os nossos olhos na diferença. desta vez o bebé real passou dos braços cansados da mãe para o cuidado atento e cavalheiresco do pai. foi william quem tratou dos aspectos práticos, libertando assim a mãe estafada de ainda há poucas horas ter dado à luz. foi também william que levou a criança na cadeirinha e que a colocou depressa no carro, tratando ele próprio da condução. a modernidade destes gestos está na saudável independência masculina. a tradição está no tomar das rédeas de uma situação nova. mas a grande novidade do nascimento real é o príncipe william.

todos os dias

emily bazelon, editora sénior da slate, investigou a origem da afirmação polémica de todd akin, o candidato republicano do missouri derrotado nas últimas eleições presidenciais. recordemos que akin defendeu que uma mulher não engravida se tiver sido «realmente» violada («legitimate rape») porque o seu corpo «desliga». a declaração do candidato foi baseada num trabalho de 1972 de um obstetra norte-americano, fred mecklenburg, opositor radical da legalização do aborto. mecklenburg, por sua vez, fundamentou a sua própria conclusão em experiências realizadas em campos de concentração nazis. um professor alemão da universidade de berlim, especialista na análise das experiências realizadas pela classe médica ao serviço do regime hitleriano, afirma que não existe nenhum estudo sobre a relação entre violação e gravidez. fica claro que mecklenburg mentiu, que akin continua burro, e que nem sempre uma mentira mil vezes repetida se torna uma verdade.

invejagram

continuam os estudos sobre a relação entre depressão e número de horas passadas no facebook. segundo refere jessica winter, na slate, num artigo sobre o instagram, há dois usos do facebook que fazem a diferença. se é daqueles utilizadores que fazem do meio uma oportunidade para partilhar vídeos, links para artigos, etc., então a inveja que causará no próximo será quase nula. o problema aparece na partilha de fotografias do próprio, das suas férias, do seu modo de vida. uma fotografia pode dizer mais do estatuto da pessoa do que as actualizações do perfil no facebook. a inveja está à distância de um clique do invejoso que passivamente espreita o que não tem. se é assim no facebook, como será no instagram, um meio que vive de imagens, além do mais manipuladas com filtros para parecerem mais bonitas? a partir do que sabemos sobre o facebook, concluímos que a comparação no instagram será mais sofrida. é uma armadilha para invejosos.

mito urbano

em tempos, a expressão ‘não pode ver um rabo de saias’ bastava para descrever um adúltero ou um mulherengo. ficámos mais tarde a saber que as figuras públicas sofriam de adição sexual e que devíamos ter compaixão por esta perturbação mental que causava tanta infelicidade no paciente e nos seus familiares. um estudo recente concluiu que a adição sexual não existe. ao contrário de outros vícios, uma conduta hipersexual não pode ser observada neurologicamente. não existem receptores sexuais no cérebro que desenvolvam tolerância ou dependência, como acontece com o álcool ou as drogas. até o obsessivo dsm-5 tirou a adição sexual da sua lista por falta de provas. isto significa que a tentativa titânica de certos homens de possuírem qualquer mulher que lhes apareça pela frente continua a ser uma compulsão psicológica de possível controlo terapêutico sem recurso a drogas inibidoras. um bom carácter e respeito pelos outros é a melhor profilaxia.