a exposição – patente até 27 de outubro, depois de ter passado pela whitechapel gallery, de londres, e a haus der kunst, de munique – tem assim uma configuração única em serralves. o visitante começa por ser interpelado por alguns dos trabalhos mais antigos de bochner, maioritariamente a preto e branco, e é depois guiado até às ‘thesaurus paintings’, cadeias de palavras pintadas sobre telas de grandes dimensões, em tons muito vivos. a cor e o regresso à pintura são imagens de marca do artista nos últimos anos.
“quero levar o visitante numa viagem e isso significa que tem de haver uma narrativa, que nem todos percebem. as ‘thesaurus paintings’ têm um lado crítico, da linguagem, da sociedade, das relações interpessoais, da vida. a última sala é como uma zona de negatividade, mas ainda há um corredor cheio de cor”, frisou o artista.
nascido em 1940, na pensilvânia, e residente em nova iorque, mel bochner é considerado um dos pioneiros da arte conceptual, que coloca um maior enfoque na ideia do que na sua concretização material. um dos momentos-chave dessa corrente consiste em quatro pastas com fotocópias de notas, desenhos e diagramas apresentadas na school of visual arts, em 1966, e agora em serralves. como não havia verba para molduras nem para fotografar os documentos e colá-los na parede, bochner optou por mostrar o seu trabalho em 100 micas.
paralelamente, o português alexandre estrela apresenta a sua mais extensa mostra até à data, meio concreto, que tem a particularidade de ter peças em exibição alternada, nos dias ímpares e pares. imagens em movimento e som unem-se de forma inesperada, como em ‘aquário’, um elástico que flutua à deriva num aquário, e ‘flauta’, que permite ‘sentir’ o vento a atravessar uma cana de bambu.
suzanne cotter, directora do museu desde janeiro (após a saída de joão fernandes para o museu rainha sofia, em madrid), começa também a imprimir o seu cunho pessoal, procurando uma maior interactividade entre os espaços de serralves. noutra ala, pinturas, esculturas e obras em papel da colecção da fundação fazem a ponte com a antologia de bochner, questionando a noção de objecto e forma; na biblioteca, livros de artista jogam com o conceito de cor; a velha casa de serralves recebe também peças da colecção e o programa de actividades relacionadas com as mostras é intensificado.