segundo as estimativas mais recentes do bpi e do centro de estudo económicos da universidade católica, a economia portuguesa terá registado no segundo trimestre o primeiro crescimento em cadeia nos últimos dois anos e meio, com uma subida do pib de 0,6% face ao trimestre anterior.
em termos homólogos, o período entre abril e junho deste ano deverá marcar também a primeira desaceleração da queda do pib desde março de 2012, com uma contracção de 2,5%.
os números finais do segundo trimestre são divulgados pelo instituto nacional de estatística (ine) a 14 de agosto. a confirmarem-se as previsões, haverá uma inversão face ao primeiro trimestre, quando a economia afundou 0,4% em cadeia e 4% em termos homólogos, naquele que foi o trimestre mais ‘negro’ desde a intervenção da troika.
calendário dá ‘trunfo’
porém, o regresso ao crescimento no segundo trimestre e a travagem na recessão estão «empolados» por efeitos de calendário, adianta ao sol paula carvalho, economista-chefe do bpi.
este ano, a páscoa ocorreu ainda no primeiro trimestre, em finais de março. como é uma época de menor actividade económica, sobretudo no comércio externo, acabou por ‘favorecer’ o segundo trimestre em termos da evolução do pib em cadeia.
o mesmo ‘efeito’ sucedeu em termos homólogos, uma vez que em 2012 a páscoa ocorreu no segundo trimestre. estes ‘favorecimentos’ são possíveis porque os valores do ine não são corrigidos da sazonalidade e permitem oscilações provocadas por eventos extraordinários.
este efeito positivo já tinha sido salientado pelo banco de portugal, que há duas semanas estimou que o impacto negativo da páscoa nas exportações tinha sido “pronunciado” no primeiro trimestre e que a actividade económica no segundo “terá sido afectada positivamente pelos efeitos de calendário”.
paula carvalho avança que o esperado sucesso do segundo trimestre poderá ser “a excepção” este ano. a economista salienta que a crise política do mês passado poderá ter afectado negativamente o terceiro trimestre, e que as prováveis medidas “mais penalizadoras” do orçamento do estado para 2014 irão penalizar a recta final do ano, ao nível da confiança dos consumidores e empresas.
para joão césar das neves, existem “sinais de que a economia terá chegado ao fundo” e que no final do ano pode ser expectável um crescimento muito ténue. o economista sublinha que o mais importante é o facto de a economia portuguesa estar a sofrer uma transformação estrutural profunda: há um desvio de actividades que eram insustentáveis no longo prazo para uma economia mais diversificada, assente em serviços e nichos de mercados na agricultura ou nas pescas.
sinais positivos além-páscoa
embora a performance do segundo trimestre esteja ‘empolada’ pelo efeito páscoa, os economistas concordam que existem sinais de recuperação. é provável que entre abril e junho se tenha verificado uma queda menos acentuada do consumo das famílias e do investimento, além de um comportamento favorável das exportações.
os indicadores de confiança da economia estão também em alta desde o início do ano, e em todos os sectores (ver quadro). são sinais de que a economia poderá cair menos do que nos últimos meses. ainda assim, a confiança dos agentes está ainda longe dos períodos anteriores à crise.