fundada em junho de 1986, a siscog começa a ser pensada ainda em 1982, quando ernesto morgado e joão pavão martins estavam nos eua a fazer um doutoramento. amigos desde os tempos do técnico, onde, na década de 70, tiraram uma licenciatura em engenharia mecânica, a ‘equipa-maravilha’, como lhes chamavam os colegas, decidiu investir 500 contos (hoje 2.500 euros) do seu bolso numa empresa dedicada à inteligência artificial.
foi a primeira do país. e na sua génese tem “uma grande dose de loucura”, brinca ernesto morgado. “começámos numa área como a inteligência artificial quando em portugal a informática ainda estava no princípio. em meados de 80 só as grandes empresas e o estado a usavam. estávamos a tentar desbravar áreas inovadoras não só em portugal, que não era muito receptivo a novas tecnologias, mas no mundo”.
em 1987, chega o primeiro desafio: desenvolver um protótipo que permitia à cp gerir os horários e as escalas dos maquinistas. fez-se, mas o sistema acabou por nunca entrar em operação. ainda assim, chamou a atenção dos caminhos-de-ferro holandeses. e, em 1993, a siscog apanha o comboio da internacionalização.
contam os fundadores que o negócio acelera quando, “após dois anos de namoro”, fecham um contrato de 400 mil contos com a empresa. na época com oito funcionários, a siscog iria desenvolver um programa informático para planear os períodos de trabalho de 27 mil funcionários holandeses. e tornar-se-ia na primeira empresa nacional a exportar software made in portugal. o feito celebra 20 anos na próxima semana.
entrar na carruagem da produtividade
hoje, através dos sistemas que concebe para gerir e optimizar tripulações, frotas e material circulante, a siscog põe também a andar as composições dos caminhos-de-ferro finlandeses, dinamarqueses e noruegueses.
em 2012 facturou 6,8 milhões de euros – mais 22% do que em 2011 – e este ano deverá manter-se na rota do crescimento. com 97% das receitas geradas no estrangeiro, portugal, onde o único cliente é o metropolitano de lisboa, não é, nem nunca foi um país com peso nos resultados.
“os portugueses têm um problema sério: não acreditam neles. acreditam mais no que é feito lá fora e nós sentimos isso”, nota joão pavão martins. e embora saliente que isso está a mudar, afirma que “nunca houve uma grande preocupação com a produtividade e as soluções que oferecemos são para a aumentar. muitas das empresas com que lidávamos eram estatais e não tinham problemas desses. o patrão nunca ia à falência”. por isso, não é coincidência que os actuais clientes da siscog sejam de geografias famosas pelos seus índices de produtividade, ainda que tenham sido conquistadas “a pulso”. “muitas vezes os países do norte da europa não têm confiança nos do sul”, lembra ernesto morgado, embora isso esteja a melhorar.
o percurso da siscog também passou por fases de pára-arranca. “o início dos anos 2000 foi a mais complicada”, conta pavão martins. a empresa tinha uma grande dívida e os bancos, escaldados com a bolha das empresas tecnológicas, dificultavam o crédito. ao mesmo tempo, o medo do bug do ano 2000 e a mudança para o euro fizeram disparar os salários dos engenheiros informáticos, numa altura em que siscog precisava de se manter competitiva, mas nem sequer tinha dinheiro para ordenados. até que um empréstimo do bes permitiu dar andamento aos contratos em carteira.
hoje, a siscog, quer manter a marcha da internacionalização e segue para novas paragens. “estamos a trabalhar activamente para ter um parceiro na china. já tivemos reuniões com várias empresas e temos três na short list. andamos a negociar. também temos a possibilidade de arranjar um parceiro no brasil”, avança pavão martins. e ainda que não o identifique, adianta que também já há um parceiro nos eua, para um projecto grande. o próximo passo pode ser abrir escritórios no estrangeiro.
à lei do ‘desenrascanço’
já galardoada com vários prémios internacionais de inovação e considerada uma das melhores empresas para trabalhar em portugal, a siscog emprega 113 pessoas. para dar resposta à procura crescente dos seus produtos, só este ano já contratou 15 novos funcionários, mas nem sempre é fácil achar quadros de qualidade. a crise tem levado muitos informáticos a emigrar e a fuga de cérebros é a grande preocupação dos fundadores, que vêem chegar cada vez mais encomendas mas sabem que formar os seus colaboradores leva pelo menos seis meses.
“se não nos posicionarmos nos países com maiores desenvolvimentos acabaremos por perder quota face aos concorrentes”, acrescenta o outro sócio, que, no futuro, admite alargar a actividade à aviação, rodovia ou até fora da área dos transportes.
e apesar de já terem sido assediados para vender a siscog, incluindo por gigantes do sector, certo é que sair de portugal não está nos planos.
diz ernesto morgado que além da dose certa de loucura, risco, espírito inovador e bom senso, “a forma de ser do português faz parte do sucesso da empresa e está no seu código genético”. “somos uma empresa de produtos, mas fomos sempre uma empresa com a capacidade de adaptar os produtos às necessidades dos clientes e só um país do ‘desenrascanço’ é que permitiria algo assim. tipicamente somos melhores na adversidade do que na bonança. mas portugal tem a capacidade de, nos momentos difíceis, encontrar soluções”.