“há mais de uma dezena de hospitais que não estão a fornecer gratuitamente a terapia hormonal aos pacientes, obrigando-os a recorrer às farmácias”, acusa o médico vítor veloso, da liga portuguesa contra o cancro, acrescentando que têm chegado à associação queixas de doentes. “há hospitais que invocam que os doentes, após a cirurgia e os tratamentos de radio e quimioterapia, não têm direito a continuar a ser tratados gratuitamente”.
já para a presidente do conselho de especialidade de oncologia da ordem dos médicos, helena gervásio, o fenómeno resulta do facto de haver “mais doentes a serem tratados nas unidades privadas, recorrendo a seguros ou à adse”, tendo depois os utentes de adquirir os medicamentos nas farmácias, onde o estado apenas comparticipa 37%.
remédios só para um mês
em causa estão remédios usados por sobreviventes de cancro da mama, próstata ou do rim. é que depois de serem operados ou sujeitos a quimio e radioterapia têm de ser medicados para evitar que a doença reapareça. no caso do cancro da mama, os antagonistas hormonais são tomados por cinco anos.
nas farmácias, a maior subida foi nos citostáticos, medicamentos que atrasam a evolução do tumor: só no primeiro semestre do ano, os portugueses compraram mais 23% destes produtos do que no ano passado, revelam os dados da consultora ims health.
o mesmo sucede com os antagonistas hormonais, medicamentos anti-cancro com maior peso nas farmácias. entre janeiro e junho, venderam-se 58 mil unidades, mais 15% do que em 2012.
os medicamentos oncológicos são dos que mais pesam na factura dos hospitais, que têm sido obrigados a conter a despesa.
só nos primeiros cinco meses deste ano, foram gastos 76 milhões de euros nestes tratamentos em 47 hospitais públicos, diz a autoridade do medicamento – infarmed. ou seja, 17,5% da factura de 435 milhões gastos com todos os tratamentos hospitalares.
esta semana, foram conhecidas as denúncias da ordem dos médicos sobre a recusa dos institutos de oncologia de lisboa, porto e coimbra de fornecer medicamentos inovadores – e por isso mais caros – aos doentes.
mas muitas unidades estão já a restringir e controlar o número de medicamentos habitualmente cedidos aos utentes. por exemplo, no hospital de santa maria, em lisboa – e salvo excepções como crianças ou pessoas com carências económicas ou de mobilidade –, os doentes recebem apenas tratamento para um mês. é o caso de maria, de 64 anos, que acaba por comprar o remédio nas farmácias: “todos os meses vou à farmácia hospitalar buscar o remédio, mas quando viajo em trabalho e não consigo ir buscá-lo a tempo, compro-o na farmácia”.