Conhecido por Zico

A decisão do tribunal de poupar a vida ao cão Zico é bem-vinda. Tive a oportunidade de defender essa opção com o argumento de que um animal não humano não decide matar ninguém, porque não é dotado de razão, logo não pode fazer escolhas.

o cão é perigoso porque é treinado por pessoas perigosas, que, essas sim, são responsáveis pelas suas decisões. rita silva, dirigente da associação animal, escolheu, pela sua parte, chamar mandela ao zico e apresentou razões: «vamos chamá-lo mandela, porque tal como o líder sul-africano este cão também é um símbolo de liberdade. esteve preso sete meses sem saber porquê, tal como mandela esteve preso mais de duas décadas». o que me surpreende na declaração de rita silva é a sua crença na capacidade racional do zico. é, aliás, a sua incapacidade que o torna recuperável. não pensa, por isso pode ser moldado. bastava mudar o nome para um menos agressivo e pôr o ex-zico num programa de protecção de testemunhas.

vida académica

o professor barry komisaruk, da universidade rutgers, em nova jérsia, tem 72 anos e desde a década de 60 que estuda o prazer feminino. após mais de cinquenta anos de pesquisa, chegou à conclusão de que ter um orgasmo é mais benéfico para o cérebro do que fazer palavras cruzadas ou sudoku. parece que este tipo de exercícios estimula a corrente sanguínea, mas só numa parte do cérebro, ao passo que um orgasmo atinge toda a massa encefálica. a notícia foi publicada no jornal the telegraph, o que significa que por aquelas bandas também não sabem muito bem o que fazer no mês de agosto. pelos meus cálculos, o professor komisaruk terá começado a sua investigação com pouco mais de 20 anos. é uma vocação. fiquei cheia de perguntas. como será uma vida dedicada à observação da actividade sexual de ratos e pessoas? a máquina de observação seria usada para verificar orgasmos fingidos? terei de esperar até ao próximo verão pela actualização dos resultados?

um mau argumento

o ministro do ambiente da índia declarou que os golfinhos devem ser considerados «pessoas não humanas» e por isso não podem ser mantidos em cativeiro nem devem ser usados em espectáculos de entretenimento. a razão para esta grande novidade está na inteligência destes animais já confirmada cientificamente. aplaudo a decisão, mas não concordo com o argumento usado. se a inteligência é o factor determinante para os animais terem direitos, então não há motivos de preocupação para os aficionados das touradas, entre outros. a menos que se prove que o touro é mais inteligente do que o toureiro. mas o que acontece aos animais mais estúpidos do que os golfinhos, quase todos? se fizermos como na índia fazem com as vacas, teremos de introduzir o conceito de pessoa divina. se a pessoa é divina, então não se pode comer. um dia seremos convertidos à força ao vegetarianismo. tudo porque insistiram em argumentos frágeis para criar leis importantes.

#tudopreso

a decisão do banco de inglaterra de substituir a imagem da filantropa elizabeth fry pela de winston churchill nas notas de cinco libras levou a activista feminista caroline criado-perez a lançar uma petição para que houvesse ao menos a figura de uma mulher nas notas de libras. criado-perez ganhou a batalha após reunir 35 mil assinaturas e jane austen figurará nas notas de dez libras a partir de 2017. o preço desta vitória foi uma série de ameaças de bomba, violação e morte no twitter. parece mentira contado assim, mas é verdade. a deputada do partido trabalhista, stella creasy, que apoiou a petição de criado-perez, foi igualmente ameaçada de tudo o que ninguém decente imagina. o próprio twitter está sob fogo, por não ter meios nem destreza para lidar com estes problemas afinal de contas tão velhos quanto a humanidade. talvez edward snowden possa explicar como é que se controla a comunicação destas criaturas e como se identifica estes cobardes.

longo prazo

um estudo publicado na nature communications, uma publicação disponível apenas online, indica que uma estratégia de sobrevivência autocentrada e egoísta conduz a longo prazo à extinção. a cooperação e o espírito de entreajuda nos indivíduos é o que os faz evoluir e sobreviver. o estudo foi realizado por uma equipa da universidade do michigan, que usou o dilema do prisioneiro, criado por merrill flood e melvin dresher, para testar a sua tese. a equipa de investigadores descobriu que denunciar o próximo para proveito próprio podia ter vantagens a curto prazo, mas não assegurava a sobrevivência. a cooperação entre duas pessoas colocadas numa situação em que uma afinal não denunciava a outra revelou ser a medida que garantia penas reduzidas para ambos os ‘prisioneiros’ e uma possibilidade de futuro para cada um deles. os indivíduos podem ser egoístas, mas os genes não são. querem viver, expandir-se, multiplicar-se. e nada disto se faz sozinho.