um governante não pode passar de um lado para o outro das barricadas como se tudo fosse natural e admissível. não pode ter andado a vender swaps ao governo anterior com o intuito de disfarçar o défice público e vigarizar as estatísticas do eurostat para, no governo seguinte, aparecer a renegociar os estragos causados pelos swaps.
não pode ter sido colocado na estradas de portugal por um famigerado vulto do socratismo, paulo campos, e aí se tornar responsável por alguns dos contratos mais ruinosos para o estado de ppp rodoviárias para, na encarnação seguinte, entrar no governo que fez da denúncia e moralização das ppp uma das suas bandeiras distintivas.
há, pelo menos, três critérios que um candidato a governante deve preencher: competência técnica, ética de comportamento e coerência política. joaquim pais jorge só satisfazia o primeiro – pois não custa admitir que seja um perito nas engenharias financeiras e contabilísticas que andou a vender, em anos recentes, por vários estaminés. mas não cumpria nem os mínimos éticos (ao dispor-se a dar a cara por uma coisa e pelo seu contrário) nem de confiança política (ao saltar do colo de sócrates e paulo campos para o colo de passos coelho e maria luís albuquerque).
são, por isso, inusitadas a arrogância e a lata de pais jorge ao vir queixar-se de «baixeza» e do «lado podre da política» na hora da sua tardia saída.
perguntar-se-á: como pode um elemento destes chegar ao governo? infelizmente, com a rotação há muito instituída do bloco central de interesses e clientelas, já nem sequer é uma novidade.
neste caso, resultará sobretudo do embevecimento da ministra com as qualidades técnico-profissionais de joaquim pais jorge, esquecendo os crivos de exigência ética e política. o perfil tecnocrata e a patente falta de sensibilidade política de maria luís albuquerque explicarão este lamentável episódio. mas o que anda a fazer passos coelho? deixa que tudo lhe passe debaixo do nariz?
jal@sol.pt