Elogio da futilidade no novo filme de Sofia Coppola

O que faz um grupo de adolescentes entediados nos confortáveis subúrbios californianos perto de Hollywood além das habituais saídas à noite regadas a álcool e droga? Assaltar casas de celebridades, deitando-se nas suas camas, fotografando-se entre as suas coisas, mergulhando nos seus armários, e levando as roupas de marca, acessórios e sapatos que tanto ambicionam…

é essa a premissa de o gangue de hollywood, o novo filme de sofia copolla, protagonizado por, entre entros,_emma watson e israel broussard, estreado este ano em_cannes e agora nos cinemas. poderia parecer uma ideia irreal._mas o filme parte de acontecimentos verídicos, narrados numa reportagem assinada pela jornalista nancy jo_sales para a revista vanity_fair. entre 2008 e 2009 pessoas como_paris hilton,_lindsay lohan, rachel bilson e orlando bloom tiveram as suas casas assaltadas pelo grupo, que levou, entre as várias ‘visitas’, cerca de três milhões de euros em roupa, malas, relógios, jóias e sapatos.

não podia ser-lhes mais fácil entrar nas casas daqueles cujas vidas ambicionavam: na internet viam quando iam estar fora, descobriam-lhes a morada, no google street view, os portões e caminhos de acesso por onde poderiam entrar e, uma vez lá chegados, tentavam encontrar uma chave debaixo do tapete, uma janela aberta.

olhar sem julgamentos sobre uma geração fascinada pela fama, que se julga no direito de ter o mesmo do que aqueles cujo estilo desejam copiar, o gangue de hollywood conta com uma cinematografia de uma beleza imensa e mostra o quanto a narrativa deixou de ser importante. estas personagens mal dialogam entre si, sendo a frase mais repetida algo que poderíamos traduzir por ‘a sério?_‘tás a gozar!’. não lhes interessa os textos que acompanham as fotografias das revistas que folheiam, o que fazem as celebridades que tanto admiram (terão visto algum filme de orlando bloom?)._sabem-lhes o nome, conhecem-lhes a página de facebook, o estilo, a roupa. e querem fotografar todos os momentos para colocar nas redes sociais._essa é a sua única narrativa._ou, pelo menos, aquela que interessa. se antes tínhamos um povo com fome que exigia ter acesso aos meios de sobrevivência que maria antonieta tão bem desperdiçava, agora temos um grupo de jovens que exige ter os mesmos vestidos que paris hilton nem sabe ter no armário (depois de cinco assaltos a socialite ainda não tinha dado conta que lhe tinham levado algo). e se lindsay lohan cumpre pena por ter roubado uma joalharia por que não assaltar-lhe a casa?

e é nesta dicotomia que copolla tão bem se movimenta, mostrando um glamour obsceno, uma juventude sem um caminho traçado, armários cheios de louboutins, uma futilidade imensa na personalidade, nas conversas, nas relações, na vida. a banda sonora não podia ser mais actual, com canções de kanye west,_azelia banks, m.i.a. e frank ocean._e, a cereja no topo do bolo: paris hilton cedeu a sua casa como cenário para as filmagens. vidas vazias, diálogos vazios, num filme vazio de julgamentos.

rita.s.freire@sol.pt