segundo dados revelados esta semana pelo eurostat, a zona euro terminou seis trimestres consecutivos de recessão, ao crescer 0,3% entre abril e junho, face aos três meses anteriores.
esta performance ficou acima das estimativas de 41 economistas contactados pela bloomberg, que apontavam para uma expansão do pib de 0,2%. face ao trimestre homólogo, a região da moeda única atenuou a sua queda com uma descida do pib de 1,1%para 0,7%, adiantou o gabinete de estatística da comissão europeia.
o melhor trimestre
o regresso ao crescimento das duas maiores economias europeias, alemanha e frança, e a desaceleração da recessão em itália e espanha, terceira e quarta maiores economias da região, foram determinantes para aquele que foi o melhor trimestre europeu desde 2011. dos 17 membros da zona euro, cinco saíram da recessão, quatro atenuaram a contracção do pib e três aceleraram o seu crescimento. irlanda, grécia, malta, eslovénia, luxemburgo não divulgaram os dados em cadeia.
o consumo das famílias e do estado foram os grandes ‘motores’ do crescimento alemão, cujo pib acelerou 0,7%, retirando o país da estagnação – foi o crescimento mais alto desde o primeiro trimestre de 2012. em frança, o consumo privado foi igualmente decisivo para dar ao presidente françois hollande o melhor trimestre do seu ano e meio de mandato. espanha e itália permaneceram em recessão, mas muito próximos da estagnação (crescimento nulo).
portugal acabou por ser a grande surpresa do trimestre, com o pib a subir 1,1%, o maior crescimento em toda a europa e quase quatro vezes a média da zona euro, um facto inédito.
a prestação surpreendeu os economistas dentro e fora de portas, cujas estimativas oscilavam numa subida de 0,3% a 0,6%. o desempenho acima das expectativas foi até tema de conversa nos fóruns internacionais e redes sociais na quarta-feira.
páscoa dá trunfo a passos
segundo o instituto nacional de estatística (ine), a expansão de 1,1% da economia deveu-se a uma queda menos acentuada do investimento, nomeadamente no sector da construção, e sobretudo a uma “aceleração expressiva” das exportações.
o ine lembra que o efeito de calendário influenciou positivamente os números do segundo trimestre, já que a páscoa ocorreu em março, este ano. a época pascal é um período de menor actividade económica em portugal, sobretudo a nível de comércio externo, pelo que houve uma aceleração expressiva entre abril e junho.
o banco de portugal e vários economistas contactados pelo sol estimaram recentemente que, sem o ‘efeito páscoa’, a economia teria ficado perto da estagnação. em termos homólogos, o segundo trimestre marca também uma desaceleração na queda do pib ( descida de 2%), depois de um primeiro trimestre que foi o pior dos dez em que a economia esteve em recessão.
a saída deste ciclo recessivo na zona euro e em portugal traz dois trunfos valiosos para dois governantes europeus: a chanceler alemã angela merkel e o primeiro-ministro português, pedro passos coelho. a primeira enfrenta eleições já em final de setembro, enquanto o segundo terá nesse mês uma difícil avaliação da troika, com a negociação dos cortes no estado e a preparação do orçamento do estado para 2014.
é desta?
a garantia dada pelo banco central europeu (bce) de manter os juros em níveis historicamente baixos, o período mais longo de acalmia nos mercados financeiros desde o início da crise e o abrandamento da austeridade em muitos países fizeram aumentar a confiança dos agentes económicos em toda a europa, ‘pavimentando’ o crescimento.
a produção industrial voltou a subir (0,7%) em junho na zona euro e a confiança dos consumidores da região aumentou em julho pelo oitavo mês consecutivo. os juros da dívida pública nos países do sul estão agora mais estabilizados: itália e espanha estão em mínimos de dois anos, portugal está a níveis de pré-resgate da troika.
porém, as más notícias são tão numerosas como as boas. o desemprego continua a ser a principal dor de cabeça dos governantes europeus. no total da zona euro, a taxa de desemprego está acima de 12% e o desemprego jovem nos 23%, dois máximos históricos. e há uma divergência extrema na europa. a alemanha nunca teve um desemprego tão baixo (taxa de 5,4% em junho), enquanto um quarto dos gregos não tem trabalho e quase 60% dos jovens espanhóis estão desempregados.
com a dívida pública a superar os 90% em quase toda a zona euro e com tendência de subida, a margem para estímulos económicos em detrimento de austeridade é cada vez menor. a união bancária sofre igualmente de vários atrasos e o crédito para as empresas permanece congelado no sul da europa.
bruxelas prudente
os efeitos de choque de novas crises na grécia – cujo terceiro resgate é dado como certo – ou em chipre – cuja economia está em queda livre e contraiu 5,2% no 2.º trimestre em termos homólogos – provam que as boas notícias desta semana podem durar apenas um verão.
após a revelação dos números do eurostat, os investidores estavam sobretudo cautelosos. o banco francês bnp paribas admitia que o pior da crise talvez tivesse passado, enquanto a casa de investimento britânica schroders salientava que a zona euro continua a duas velocidades, com o crescimento concentrado nos países do norte.
a própria comissão europeia mostrou-se prudente e deu pouca margem para novos alívios. “os dados mais optimistas são bem-vindos, mas não há, porém, espaço, para complacência”, afirmou o comissário europeu para os assuntos económicos e monetários, olli rehn. “um retoma sustentável é agora possível, mas só se preservarmos todas as frentes de ataque à crise”. o terceiro trimestre irá provar se a primavera de 2013 foi temporária.