morsi revelou-se incompetente na administração e sectário na política ao beneficiar descaradamente a irmandade muçulmana e ao prejudicar outros sectores da população egípcia. o golpe de estado que o derrubou parecia uma maneira ilegítima de estabelecer uma justiça democrática. fala-se de mais de trinta milhões de participantes nas manifestações de apoio aos militares golpistas. a irmandade revoltou-se e foi reprimida com violência. a democracia funcionou mal. os golpistas mostraram a sua violência. os dois lados têm culpas nesta história sanguinária. a união europeia pede a libertação dos presos políticos e os estados unidos condenam com pouca convicção os militares egípcios. todos esperam que todos se acalmem. como? ninguém sabe. talvez por milagre, com os míticos sectores moderados do costume.
vezes cinco
li uma história poliamorosa no site da bbc. poliamor significa ‘a prática, o desejo, ou a aceitação de ter mais do que um relacionamento íntimo com o conhecimento e o consentimento dos envolvidos’. os intervenientes são sarah, chris, charlie e tom. vivem todos juntos. charlie está com tom e também tem um relacionamento com sarah e chris. tom também tem um relacionamento com sarah. tom e chris são só amigos. sempre que cada um gosta de outra pessoa que não está incluída no núcleo duro deve pedir o consentimento dos outros três. todos têm direito de veto. no depoimento destas quatro pessoas, que formam cinco casais, houve entusiasmo pelo poliamor. falaram das preocupações para não ferir os sentimentos dos parceiros. é uma pena não terem sido mais indiscretos e que não contem como resolvem as discussões, os conluios, se há um alfa ou se são todos beta. e, sobretudo, como diabo resolvem os problemas de qualquer casal multiplicados por cinco.
literalmente
segundo uma notícia do telegraph, o dicionário oxford da língua inglesa terá aceite em setembro de 2011 um significado aparentemente errado para o advérbio ‘literally’, que quer dizer ‘à letra’. o outro sentido para a palavra, usado muito no discurso coloquial, mas usado mal, segundo indica a minha edição do dicionário com data de 1998, é o de ‘verdadeiramente’. esta maneira de dar ênfase na frase foi muitas vezes ridicularizada pelo grupo dos pedantes do costume, em que naturalmente me incluo. ‘a sério que ficou literalmente à apanhar bonés?’, perguntava com aquele ar de desdém insuportável. pois a resposta correcta pode ser: ‘sim, literalmente’, no sentido de ter ficado realmente sem saber o que fazer. não é que tenha ficado à letra a apanhar bonés. o que aconteceu foi ter ficado mesmo, a sério, de verdade, sem saber o que fazer. o sentido está incluído no nosso dicionário da academia. afinal, o oxford chegou literalmente atrasado.
coisas importantes
o actor benedict cumberbatch, que conhecemos da série sherlock, e que uma minoria conhecerá da excelente adaptação televisiva do clássico de ford madox ford, parade’s end, estava em gales quando os paparazzi começaram a fotografá-lo. cumberbatch vestiu um casaco com capuz, pôs uns óculos escuros e mostrou um papel com a seguinte frase: “vão fotografar o egipto e mostrem ao mundo coisas importantes”. vi a fotografia no buzzfeed e gostei. gosto do actor e da mensagem, mas há que observar a sua ingenuidade. as coisas importantes, como as que se passam no egipto, não interessam ao público em geral. mas será este um problema assim tão grande? como seria um mundo sem coscuvilheiros e oportunistas? talvez melhor, mas não tenho a certeza se seria um mundo de seres humanos. cumberbatch fez o que achou por bem fazer e fico feliz por ter escolhido um modo divertido de pedir que o deixassem em paz. pior seria se tivesse iniciado uma petição.
os gregos
roger cohen escreveu no the new york times um artigo estimulante sobre a grécia. após cinco anos de crise profunda, com o desemprego a atingir 27% da população activa, parece haver agora uma luz ao fundo do túnel. o clima das manifestações pacificado e as temperaturas altas levaram a uma verdadeira enchente de turistas à procura de descanso e diversão nas ilhas. o ministro das finanças, yiánnis stournarás, disse que a economia grega sofrera uma retracção de apenas 4%, contrariando as previsões (ainda) mais sombrias. a melhoria pode ter que ver com o verão, mas também pode significar que os gregos podem estar a adaptar-se a um estilo de vida diferente e a reagir às adversidades de uma maneira sólida. além do mais, o orgulho grego, pouco compreendido por outros povos, pode estar a desempenhar o seu papel motivador. roger cohen prevê que a grécia seja um país rico daqui a dez anos. estou a torcer por nós e por eles também.