Grécia invade campanha alemã

Hipótese de terceiro resgate grego incendeia debate eleitoral. Em Itália, Berlusconi ameaça agravar a crise europeia.

falta menos de um mês para a alemanha ir às urnas (a 22 de setembro) e até há poucos dias a campanha eleitoral assemelhava-se mais a uma ‘não-campanha’ entre dois partidos sem apetite para hostilidades.

os programas das duas maiores forças germânicas – a cdu conservadora de angela merkel e o spd socialista de peer steinbrück – aproximavam-se mais do que se afastam. merkel, a piscar o olho ao eleitorado centrista, apropriou-se de bandeiras sociais como o salário mínimo nacional ou os infantários públicos. o centro-esquerda, por seu lado, apesar de clamar pela flexibilização na gestão da crise do euro, não arriscava numa abordagem radicalmente diferente da de merkel.

mas o cenário mudou quando, sem aviso, o ministro das finanças, wolfgang schäuble, agitou as águas da campanha ao afirmar que a grécia vai precisar de um novo programa de ajuda financeira – teoria que, após um primeiro desmentido, o ministro das finanças helénico yannis sturnaras acabou por acolher. mas foi cauteloso: o apoio não deverá passar dos 10 mil milhões de euros (valor muito inferior aos 240 mil milhões envolvidos nos dois primeiros resgates), nem estar vinculado a novas condições (ou seja, sem um novo memorando de entendimento com a troika).

instalado o debate, jeroen dijsselbloem, presidente do eurogrupo, reforçou a tese de schäuble e lembrou que, com o programa em curso quase concluído, a dívida pública grega atinge ainda o valor vertiginoso de 180% do pib. já o comissário europeu para os assuntos financeiros, olli rehn, foi mais cauteloso e disse ser “prematuro” falar em números. um terceiro resgate “não é a única opção”, disse. a extensão dos prazos para o pagamento dos empréstimos também deve ser ponderada.

discursos endurecem

premeditadamente ou por acidente, schäuble acabou por reintroduzir na campanha um tema incómodo para a cdu. até então, os democratas-cristãos estavam a fazer tudo para que o foco incidisse na ideia de que o pior já tinha passado, e não no receio de novas ajudas dos contribuintes germânicos para os países “despesistas” do sul (para os quais berlim contribuiu com mais de 122 mil milhões de euros até ao momento).

agora, merkel opta por arremessar o dossiê contra os rivais políticos, abstendo-se de alimentar um debate interno com o colega de partido schäuble. numa acção de campanha, responsabilizou os sociais-democratas por “erros na fundação do euro” em 2001, ao terem permitido a adesão da grécia à moeda única.

no centro da crítica estava o seu antecessor, gerhard schröder, que tem tido um papel fundamental na campanha do spd, na tarefa de convencer os eleitores de que merkel esconde a verdade sobre a europa e que já deixou de ser a “aposta segura” para gerir a crise. “não se gera confiança a esconder factos”, declarou.

a imagem de boa gestora da crise e de protectora dos interesses germânicos é, de resto, o principal trunfo de merkel na corrida a um terceiro mandato. perdida essa imagem, espera a oposição, a chanceler perderá as eleições.

mas não é o que dizem as últimas sondagens. uma sondagem realizada esta semana pelo instituto forsa e divulgada pelo der spiegel dava 47% das intenções de voto à cdu e aos liberais parceiros de coligação e 43% a uma improvável coligação entre spd, verdes e die linke.

itália, outra dor de cabeça

enquanto a poeira das ruínas gregas se levanta sobre as mais importantes eleições da europa, na terceira maior economia da zona euro o cenário não é menos conturbado.

com a votação sobre a eventual expulsão de silvio berlusconi do senado (na sequência da sua condenação por fraude fiscal) a aproximar-se, em itália as relações entre o povo da liberdade e o partido democrata degradam-se. se o primeiro ameaça abandonar a coligação governamental e fazer cair o frágil executivo de enrico letta, o segundo promete não ceder a chantagens.

o despique já fez disparar os juros da dívida, numa altura em que roma procura uma saída para a sua maior recessão desde o pós-guerra.

rita.dinis@sol.pt