é evidente que as causas da violência doméstica não estão na derrota do clube, mas ainda assim a ideia de associar uma campanha contra a violência doméstica ao futebol é boa, porque o alerta chega a muitos potenciais agressores logo no momento da semana de que mais gostam. a associação de mulheres contra a violência está de parabéns por ter conseguido incluir o benfica na campanha de recolha de fundos que está a decorrer. ninguém espera efeitos milagrosos de nenhuma campanha de sensibilização para um determinado comportamento, sobretudo porque se continua a insistir numa mudança de atitude por parte do agressor. mas a única resposta para os agressores está nos tribunais. espero que as futuras campanhas falem ao coração das vítimas. é nelas que está a mudança.
descaramento
o estado de nova iorque está a processar donald trump por ter ludibriado milhares de pessoas com promessas de cursos na trump university sem currículos preparados nem professores escolhidos. os anúncios dos cursos eram protagonizados pelo próprio donald trump, que prometia ensinar um método infalível para investir em imobiliário. tudo começava por um seminário de três dias, que custaria apenas 1.500 dólares. depois chegaria a vez da inscrição no curso propriamente dito em troca de mais 35 mil dólares. trump diz ser inocente de todas as acusações de fraude e alega estar a ser vítima de uma perseguição política. a guerra vai num ponto em que o procurador-geral eric t. schneiderman está a ser acusado de ter motivações pessoais no caso. não sabemos se trump estará inocente, mas, depois de aparecer em the apprentice, um reality-show sórdido, é muito difícil confiar no magnata norte-americano. mas um grande descaramento não lhe falta.
para nada
o jovem alemão moritz erhardt tinha 21 anos e era um dos 300 estagiários a trabalhar por 2.700 libras por mês, no banco de investimento merrill lynch, em londres. morreu durante o seu estágio, ao que sabemos de exaustão. o colapso definitivo deu-se após o terceiro dia de trabalho de 21 horas seguidas, com uma pausa gentilmente concedida pelo banco. a pausa consistia num duche rápido e mudança de roupa às seis da manhã. a essa hora entravam outros colegas, que tinham a sorte de não trabalhar na mesma área de negócio que o desafortunado erhardt. o estágio tinha a duração de dez semanas e estava prestes a chegar ao fim, mas o jovem não aguentou. era epiléptico e provavelmente sofria de um problema cardíaco. mesmo que não tivesse nenhuma doença, com certeza adquiriria várias com este ritmo desumano de trabalho. morreu rigorosamente para nada. não lutou pela pátria, não morreu a salvar ninguém. deu a vida por um banco de investimento.
cedo demais
na passada semana elogiei o actor benedict cumberbatch, que conhecemos por sherlock holmes na série homónima de televisão, por ter sido fotografado de capuz e óculos escuros a mostrar um papel em que dizia que os paparazzi deviam ir para o egipto fotografar o que interessa. teve graça, sem ser politicamente enfadonho. agora percebo que falei cedo demais. dias depois do sucedido, cumberbatch decidiu mostrar a cara e mais umas folhas de papel rabiscadas, desta vez com críticas ao governo britânico a propósito da detenção do parceiro do jornalista do guardian, glenn greenwald, que noticiou o caso snowden. tratava-se afinal de uma declaração dividida em quatro páginas, com frases incompreensíveis e demasiado longas. parecia um sketch humorístico, mais do que uma manifestação séria de indignação. tenho pena que cumberbatch não tenha optado simplesmente por falar para as câmaras. assim ficámos a saber que sherlock não tem capacidade de síntese.
skyler white
a actriz anna gunn, que faz de skyler white em breaking bad, escreveu um texto notável para o the new york times. o motivo não é novo. para todos os efeitos, anna é skyler, excepto para familiares e amigos. e skyler white é odiada por muitos milhares de fãs de breaking bad. como anna gunn explica, a mulher de walter white tornou-se uma opositora do marido quando se apercebeu da sua vida criminosa. skyler white não é carmela soprano, embora tenha responsabilidade nas acções de walt, na medida em que de início também ajudou a encobri-las. na verdade, skyler é a única personagem que conhece walter e que é capaz de o enfrentar. está, portanto, num plano de igualdade com o marido. em vez de se subordinar ao crime, skyler convive mal com ele, tenta o suicídio, tem uma depressão, leva os filhos para casa da irmã. ou seja, skyler tem princípios, percebe o que está mal e reage às escolhas do marido. daí o ódio a esta grande personagem feminina.