‘Tem de haver novidades sobre a TAP rapidamente’

Com um Verão em alta, Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo Português, antecipa um bom ano turístico em 2013. Elogiando as mudanças no Ministério da Economia, pede cortes no Estado e mais promoção.

já disse que 2013 ia ser difícil, mas o verão até está a superar expectativas, aproximando-se de 2007, que foi um dos melhores anos de sempre. são boas notícias ou não se deve embandeirar em arco?

não podemos chamar-lhe o melhor ano turístico porque temos de conjugar dois factores: ocupação e preço. e o preço desce desde o início da crise. há muitos quartos e poucos turistas, baixa-se preços. neste momento, temos como certa a descida de turistas portugueses, espanhóis, embora menor do que em 2012, e de italianos. e subidas a dois dígitos de ingleses, irlandeses e alemães. os franceses, que em 2012 já tinham sido uma boa surpresa, holandeses, belgas e brasileiros mantiveram-se. e também temos norte-americanos, russos, polacos. vai ser um bom ano turístico, melhor do que 2010, 2011, 2012 em ocupação, mas não em preço médio.

já apelou várias vezes à subida de preços, mas não é uma mensagem fácil de passar neste contexto.

temos um bom produto e essa percepção tem de começar a ser sentida por nós, para depois passá-la para fora. mas há medo por parte dos empresários. sei que, em altura de crise, quando falo em aumentar preços, estou a pregar no deserto. mas é pedagógico. se se mantiver a tendência deste verão, e esperemos que sim, começa a haver condições. a ocupação aumenta, o receio diminui, e há mais coragem para não se vender uma noite num 5 estrelas por 50 euros. historicamente, a indústria do turismo costuma ser a primeira a sair da crise.

temos ganho com a turbulência no norte de áfrica, turquia e egipto.

ajudou. mas convém termos noção de que os turistas estão a vir para portugal porque não querem ir para esses países. ou seja, não vêm por efectivamente quererem vir para portugal. quando uma família alemã decide que não vai para a turquia, não é obrigatório que venha para cá. pode ir para a croácia, espanha. aí tem de haver um trabalho de portugal para dinamizar o seu produto.

falta estratégia para o sector?

no turismo, portugal compete na champions league. estamos no top 20 dos destinos mundiais. em que outras actividades é que portugal está em 15.º ou 16.º do mundo? cortiça e não conheço mais. é claro que há uma estratégia.

já disse, com ironia, que era preferível os governos não definirem o turismo como estratégico.

quando tomei posse disse aos governantes: ‘não considerem o turismo estratégico porque, de cada vez que isso acontece, fazem-nos uma maldade’ [portagens nas scut, aumento do iva]. mas isso começa a mudar e tenho grandes esperanças no novo ministro, antónio pires de lima.

a mudança de ministro foi boa?

este ministério já não tem o emprego, o que é uma vantagem porque fica com mais tempo para a outra economia. o ministro santos pereira era bem-intencionado. mas no governo quero cabelos brancos. muitas vezes, falta experiência no terreno aos nossos governantes, falta já terem passado pela dificuldade de pagar ordenados no dia certo. o ministro pires de lima acabou de sair da unicer. é muito fácil falar com uma pessoa que há um mês estava a fazer o mesmo do que nós, mas com outro produto.

que medidas concretas apontaria para relançar a economia?

para o turismo, é importante a estabilidade política. a segurança é fundamental. a questão fiscal, e não apenas o iva ou o irc, e os custos de contexto também. não passa pela cabeça as taxas que pagamos, de resíduos sólidos, de certificação energética, e agora as taxas que as autarquias querem cobrar pelas dormidas de turistas. o simplex não está a funcionar para o turismo. também é preciso mais promoção. temos 50% de ocupação hoteleira nacional e para ter o dobro dos turistas não tínhamos de construir nem mais um hotel. faz sentido gastar milhões no emprego jovem, quando os empresários não têm clientes, e só vão ter as pessoas nas empresas enquanto tiverem esses apoios? se investirmos numa campanha bem-feita na alemanha, que nos traga mais 100 mil ou 200 mil turistas, os hotéis vão ter de recrutar. percebo que o governo apoie o emprego porque há uma questão social – se o desemprego sobe todos os meses, é preciso medidas activas contra isso. mas, como empresário, duvido da eficácia disso.

qual é a posição da ctp sobre um novo acordo de concertação social, como já se sugeriu?

este programa é de janeiro de 2012 e a realidade já mudou. não me fazia confusão começar a pensar num novo acordo, que poderia informar sobre o que ficou em falta no primeiro e actualizá-lo.

como parceiro social, como vê a reforma do estado?

temos de o reestruturar. não conheço nenhuma empresa que não tenha sido reformada e, para mim, o estado é uma grande empresa, razão pela qual não sou a favor que os políticos e os ministros ganhem mal. devem ganhar o que valem, ou seja, o que recebiam quando estavam noutras entidades, ou que a entidade privada lhes reconhecia. o que não deve acontecer é o estado não poder empregar alguém que é muito bom porque precisa de ganhar y e só lhe dão z. se perde dinheiro, e isso não pode acontecer, tal como nas empresas, o estado tem de se reformar, subir receita e baixar despesa. temos de dialogar sobre que estado queremos e, em paralelo, tem de haver cortes. no privado houve cortes de pessoal, mas não vejo isso no estado. este governo tem dois anos e a reforma já está muito atrasada.

por falar em atrasos, o facto de a privatização da tap ainda não ter sido relançada prejudica o turismo?

a ctp vive muito preocupada com essa questão. cerca de 80% dos turistas que nos visitam chegam por via aérea. a tap tem tido uma estratégia muitíssimo boa no que ao turismo diz respeito. o estado não pode injectar capital, mas a tap precisa, porque precisa de mais equipamento. há rotas que aguentavam mais frequências, mas não se fazem porque não há aviões. estamos a deixar de ganhar porque não há essa oportunidade de a tap reforçar linhas. proximamente, vamos falar com o ministro pires de lima para saber o que se passa com a privatização da tap. não posso conceber que não se faça nada nos próximos tempos, seja privatizar ou outra solução qualquer, porque a tap é vital. tem de haver novidades rapidamente.

ana.serafim@sol.pt