mas logo no treino para a prova seguinte lorenzo voltou a cair e a lesionar-se no mesmo osso. regressou a casa com nova cirurgia e nova placa de titânio no ombro. mas não parou por muito tempo. passados apenas 15 dias, o piloto já corria novamente, nos estados unidos. e apesar de todos os contratempos ocupa agora um honroso terceiro lugar no campeonato.
a recuperação do piloto espanhol só foi possível graças a desenvolvimentos científicos recentes, como o uso de titânio. “é leve e tem muito menos reacções do que a liga que se usava antigamente”, esclarece o ortopedista artur pereira de castro, antigo médico do sporting, que também participou em três edições dos jogos olímpicos. “e não tem os inconvenientes de apitar nos aeroportos” – uma vantagem evidente para quem, como os desportistas de alta competição, tem de viajar com frequência.
artur pereira de castro explica a intervenção a que o piloto espanhol foi submetido: “a solução imediata passou por uma osteossíntese, uma operação que consiste em fixar o osso partido, de forma a que consolide rapidamente. é preciso voltar à competição e o atleta quase exige a cirurgia. mas se houver nova queda, é provável que a placa se parta, se dobre ou saltem os parafusos, como aconteceu com lorenzo. uma nova operação pode ser de alto risco”.
mas na maioria das vezes a vontade de regressar rapidamente à competição fala mais alto. alexandre augusto ferreira, o médico que acompanha os atletas dos campeonatos brasileiros de motocross, queixa-se de não conseguir mantê-los inactivos por muito tempo: “alguns iniciam a actividade física antes da alta clínica”.
a lesão que jorge lorenzo sofreu é uma das mais frequentes no motociclismo. o espanhol dani pedrosa, por exemplo, só no decorrer de 2011 foi submetido a três cirurgias e este ano, pelo mesmo motivo, falhou a mesma prova que lorenzo, na alemanha.
medicamentos para a dor
como lidam os atletas com as dores resultantes das lesões? quando, numa partida contra o méxico para a taça das confederações, um choque com um colega lhe provocou uma dolorosa fractura do nariz, david luiz continuou em campo com as fossas nasais cheias de compressas. como a hemorragia não estancava, teve de sair de campo mais de uma vez para trocar de camisola, encharcada no seu sangue. os analgésicos fizeram o resto.
no final da partida, o jogador brasileiro brincou: “agora é esperar depois da competição para fazer uma cirurgia e melhorar não só o nariz, mas a cara toda”.
nem sempre os métodos aplicados usam tecnologia de ponta. em abril do ano passado, num encontro contra o saragoça, o defesa central carles puyol sofreu a mesma lesão. o médico do barcelona aplicou-lhe um curativo pouco ortodoxo: um agrafo por cima da fractura.
porém, a terapia mais comum após choques violentos chega sob a forma de spray. estes sprays são feitos à base de lidocaína e de cloreto de etilo – elementos que reduzem abruptamente a temperatura da área aplicada e eliminam a dor temporariamente.
os médicos da área desportiva têm de ter especial cuidado pois alguns medicamentos podem ser apontados como dopping. “nem sempre se pode administrar o mesmo medicamento que a um doente comum”, realça artur p. de castro.
a revolução nos tratamentos
uma outra novidade está a ser implementada em portugal. chamam-lhe ‘factores de crescimento’ e está a ser usada até noutro tipo de tratamentos, como nas doenças oncológicas.
a técnica pode ser aplicada em qualquer pessoa, porque recorre apenas ao sangue do próprio doente (ver caixa). após o sangue ser recolhido, separam-se as suas plaquetas (as células que desencadeiam o processo de reparação dos tecidos). estas são injectadas directamente na lesão, que desta forma cicatriza rapidamente. “inicialmente utilizava-se sangue de boi, mas havia reacções alérgicas e afinal é possível fazê-lo com sangue do próprio”, explica o ortopedista.
outro factor determinante para a protecção dos desportistas é o vestuário.
os fatos dos pilotos de duas rodas são cada vez mais sofisticados para que o atleta sofra o mínimo de danos físicos. incorporam protecções para os ombros, cotovelos, joelhos e coluna.
até mesmo o calçado é especial. as botas dos pilotos são feitas de tal forma que nunca sofram lesões nos pés. além disso, as ombreiras e as botas têm uma parte em metal, próprias para deslizar no chão. só assim é possível que os motociclistas se levantem de imediato após quedas aparatosas.
ainda no campo do vestuário, há outras inovações, como peças de vestuário que produzem efeitos analgésicos e anti-inflamatórios, que melhoram a circulação sanguínea sem acelerar os batimentos cardíacos ou até que promovem uma rápida regeneração das células. além das já famosas faixas abdominais, também existem à venda na internet camisolas, bermudas, palmilhas, bonés e até calças de ganga e colares produzidos com tecido inteligente.
em contacto com a pele, a photon platina ionizada emite iões negativos. essa ionização aumenta a capacidade de absorção de oxigénio e melhora o sistema imunológico. em portugal, o sporting de braga, por exemplo, já utiliza estes materiais. e quem o usa diz que se cansa menos – mas só nos treinos, pois, por enquanto, o seu uso em jogos oficiais ainda não é permitido.
