Crise de 2008 sem culpados em Wall Street

Cinco anos após a falência do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, o perfil do sector financeiro global pouco mudou, mesmo após ter sofrido a maior crise em 80 anos.

o sistema financeiro continua dominado por bancos com uma dimensão demasiado grande para falirem, as agências de rating monopolizam o sentimento dos investidores e os supervisores continuam sem poderes para inspeccionar a complexidade dos negócios da banca. só nos estados unidos da américa (eua), os seis maiores bancos do país aumentaram a sua dimensão em 30% face a 2008, segundo dados compilados pela bloomberg.

o lehman brothers faliu a 15 de setembro de 2008, mas além da efeméride da data, o quinto aniversário marca também o fim do prazo legal para o governo norte-americano levar a tribunal os responsáveis dos maiores bancos de wall street, noticiou esta semana o new york times.

a maior crise financeira mundial desde 1929 vai passar sem culpados. ninguém vai ser responsabilizado criminalmente pela perda de milhões de empregos de empresas, num evento que iria resultar numa recessão mundial em 2009 e semear a crise da zona euro que ainda vigora.

as estimativas do preço da crise de 2008 são variadas. a mais recente, publicada esta semana pela reserva federal norte-americana, refere que pode ter custado entre seis e 14 biliões de dólares (4,2 e 11 biliões de euros), o equivalente a um a dois anos de salários a cada norte-americano.

velhos hábitos

mas o grande risco, segundo vários analistas contactados pela bloomberg, é a permanência dos hábitos no sector financeiro que provocaram a crise. o exemplo mais famoso foi o escândalo de 2012 no jp morgan, o maior banco norte-americano, onde um simples trader – conhecido como london whale – provocou prejuízos de 6,2 mil milhões de dólares a partir de posições que, no balanço do banco, valiam apenas 150 milhões de dólares.

a falência do lehman brothers e o resgate da aig – na altura a maior seguradora mundial – dois dias depois foram os maiores eventos de uma semana de pânico financeiro em todo o mundo, que eclipsou as principais instituições de wall street. o governo norte-americano canalizou 700 mil milhões de dólares para resgatar o sistema financeiro e até hoje 428 mil milhões já foram pagos pelas instituições, na maioria dos casos com lucros para washington.

porém, a economia mundial continua a sofrer os efeitos da turbulência de 2008. os eua crescem abaixo de 3%, a zona euro permanece em recessão e a saúde do sistema financeiro é débil, estando carregado de activos tóxicos adquiridos antes de 2008. em declarações à bloomberg, john reed, ex-responsável do citigroup, alerta para o excesso de complacência, face aos sinais de retoma da economia, lucros na banca e recuperação das bolsas: “o mundo parece benigno actualmente, mas é sempre assim até deixar de o ser”.

luis.goncalves@sol.pt