embora a igreja tenha uma posição clara de protecção dos imigrantes, as directivas são agora no sentido da mobilização. a partir do próximo domingo, em todas as dioceses do país, haverá homilias, sermões, informações prestadas via net, mensagens de solidariedade e apoio aos imigrantes. é pedido aos fiéis que enviem emails aos seus congressistas e que escrevam cartas às autoridades a explicar e a divulgar a posição dos católicos sobre o tema. o vaticano está a mexer-se. o papa surpreendeu ao condenar as guerras com uma frontalidade invulgar. até teve a coragem de reduzir as iniciativas bélicas a uma questão de negócio de armas e não de princípios. a maior e a mais experimentada máquina diplomática do mundo começa a fazer das suas. e, por fim, os católicos recomeçam a ser católicos.
contra a fome no mundo
é normal estarmos fartos de pessoas com hiper-exposição mediática. outra coisa é, por causa do cansaço, acharmos que tudo o que fazem é insuportável ou está errado. o chef jamie oliver é o mais recente alvo da impaciência dos anónimos. oliver tem um novo programa em que ensina pessoas sem meios a cozinhar. entre outras acusações está a de tentar ensinar enquanto se autopromove no mundo dos sem dinheiro. não gosto muito de oliver embora às vezes a sua maneira javarda de cozinhar me divirta. mas nada o impede de procurar outros públicos. neste caso, dá ideias para comer melhor com muito pouco dinheiro. duvido que tenha êxito por várias razões, entre elas a óbvia redução de escolhas que traz a falta do dito cujo. o interessante disto é não ser este novo oliver dos desfavorecidos que irrita. o irritante é oliver tout court. vai acontecer-me o mesmo se vir a cristina ferreira mais um minuto na televisão. mesmo que seja a curar leprosos.
ninguém liga
o debrett’s lançou um guia de etiqueta para telemóveis que tem dado ao telegraph bastante com que se entreter. a notícia foi comentada com entusiasmo. estava na hora de uma instituição com três séculos e meio de história se debruçar sobre um problema que está a impedir as pessoas de se relacionarem com o mínimo de civismo. está finalmente escrito que uma pessoa que fale alto ao telefone para toda a gente à volta ouvir deve ser vergastada em público… não, também era pedir demais. diz só que não se deve fazer isso, porque é uma grande falta de educação. fale mais baixo ou envie mensagens. mas há outros problemas menos fáceis de resolver como, por exemplo, lidar com alguém que de repente ‘consulta’ vá-se lá saber o quê no telefone no decorrer de uma conversa normal. lembro-me sempre de uma cena comum no cinema de hollywood. um homem e uma mulher caem nos braços um do outro. o telefone toca. ou ele ou ela atendem sempre. agora já nem tem de tocar.
uma boa recusa
um juiz inglês decretou que um casal separado na sequência de uma acusação provada de violência doméstica não devia tentar a reconciliação. daniel e natalie nash têm 23 e 24 anos, respectivamente, e estão impedidos por lei de dar uma segunda oportunidade ao seu casamento. a providência cautelar que impede daniel de se aproximar da mulher mantém-se, pelo menos, por mais seis meses. apesar de separados desde novembro de 2010, o juiz jamie tabor declarou que a vítima de ameaças e agressões não está a salvo. o juiz justificou a decisão com o controlo exercido pelo agressor, que paralisa a vítima, levando-a a pensar que não é capaz de sobreviver sem ele. não será um super-poder, mas muitas vezes as vítimas não são capazes de agir sem a ajuda de outras pessoas. nada garante que o agressor não reincida. é, aliás, comum, que o faça. as associações de defesa das vítimas de violência doméstica aplaudiram a decisão. também bati palmas à distância.
cansaço # tristeza
nunca conheci ninguém que gostasse de ouvir dizer que está ‘com um ar cansado’. a observação lembra o conselho antigo: ‘se não tens nada de agradável para dizer, então mais vale ficares em silêncio’. é quase wittgenstein interessado em advertências burguesas e etiqueta. os resultados de dois estudos recentes, dois, revelaram o que há muito sabemos. dizer a alguém que está com um ar cansado é considerado um insulto por parte de quem ouve, e o próprio ar cansado, quando é um efeito natural de noites mal dormidas, é tomado pelos outros por tristeza ou até depressão. há que relacionar estes dois resultados. a observação ‘estás com um ar cansado’ tem, portanto, mais que se lhe diga. pode ser uma manifestação de genuína preocupação de quem quer tirar nabos da púcara a respeito do estado de espírito do outro. a pergunta directa ‘o que tens?’ não está acessível a todos. há que ouvir melhor estas observações e, acima de tudo, não levar tanto a mal.