fruta ou chocolate? na nannarella não é fácil responder a esta questão. há a fruta com (pelo menos) uma dezena de sabores diferentes, depois há as especialidades com outras tantas variedades e ainda os clássicos, como chocolate, morango – “sai imenso! trabalho entre os cinco e os sete quilos de morangos por dia!” – ou stracciatella. os exíguos metros quadrados que a geladaria ocupa numa perpendicular à rua de são bento, em lisboa, fazem desconfiar que dali saiam 25 sabores todos os dias, mas filippo, o dono, não deixa mentir já que do balcão é possível vê-lo a fazer todos os sabores de raiz.
tudo começou há quatro anos quando ele e a mulher constanza resolveram partir com os dois filhos – na altura diego tinha 5 anos e lucio 3 – para lisboa e deixar a sua eterna roma para trás. mas o romance com os gelados já vinha de outros tempos: “em itália nunca tive uma loja minha mas fui criado com um grande amigo cujos pais têm uma geladaria há mais de 30 anos. basicamente estava sempre ao lado dele a fazer gelados. depois estudei para saber fazê-los”. mais tarde, especializou-se também em webdesign e foi disso que viveu, primeiro em itália e depois em portugal. mas para fazer nascer a nannarella muito ajudou a experiência de constanza que sempre trabalhou como project manager para ong. em portugal tornou-se manager do seu próprio negócio. “conseguimos abrir esta geladaria graças ao business plan que ela escreveu e foi também graças a ele que conseguimos um empréstimo bonificado. ela é a mulher dos negócios, mas é também quem está atrás do balcão!”, elogia filippo.
ainda assim não foi fácil abrirem o negócio. se no primeiro ano em portugal optaram por acompanhar os filhos na integração no novo país, quando chegou a altura de pôr o projecto em prática veio o pequeno vito – agora com oito meses – que os fez adiar mais um ano a ideia.
“só conseguimos abrir nesta primavera e o sucesso veio com os clientes!”, atira filippo. segundo conta, o segredo vem da “mistura de receitas italianas com produtos portugueses. a questão é que portugal tem produtos de alta qualidade a nível de fruta, leite, natas e de todos os ingredientes que preciso para fazer gelados”, realça. e nem mesmo as chuvas de março, aquando da abertura, afastaram os clientes: “lembro-me que nos primeiros dias, nas primeiras semanas, as pessoas entravam mesmo com a chuva e saiam com um sorriso nos lábios porque consideravam o gelado bom. e depois foi o passa palavra. começámos logo a ter filas e nunca mais parou”.
e as contas são fáceis de fazer. por dia vendem, no mínimo, 300 cones, sem contar com as caixas, copos, bolos de gelado, granizados e as natas frescas feitas por eles a cada duas horas, embora essas sejam oferta da casa. e os preços? “não quero lutar com as outras geladarias e fazer uma guerra de preços. sou italiano, de roma, e os preços que faço são os preços de roma. não é agora por estar em lisboa que tenho que fazer um gelado mais caro”, assegura. um cone médio custa 2,5 euros e pode levar dois (ou mais) sabores, depende do que o cliente pretende. contas mesmo, fazem aos gelados que nunca são os mesmos, embora mantenham os clássicos. “os outros depende de como acordo. há uns dias que me apetece trabalhar mais com ovos e faço o zabaione ou o tiramisù… outros dias que me apetece trabalhar mais com fruta da época por haver coisas diferentes ou particulares… agora de verão as pessoas pedem muito melão, meloa, pêssego, limão, figo… mas ao final do dia acabam todos!”, garante. para isso conta o cuidado que tem ao escolher as suas matérias primas. só usam fruta portuguesa de uma fornecedora do mercado da ribeira, e os outros produtos são todos frescos. quanto às frutas secas, como é o caso do pistácio, um dos sabores com mais saída, “o único problema é que não podemos torrar nós próprios os frutos mas compramos uns de alta qualidade, que importamos de itália. há de pistácio, avelã e amêndoa, e são feitos por uma pequena empresa italiana que trabalha só os frutos 100% naturais, não tem nem corantes, nem conservantes”. o mesmo acontece com os cones e as bolachas que também vêm de uma pequena empresa romana “muito tradicional e 100% artesanal”, remata.
e com o outono aí ao virar da esquina, filippo e constanza garantem que novidades não vão faltar: “já tenho na minha cabeça imensos sabores novos!”.