a corrida à presidência da reserva federal norte-americana (fed) começou há meses, mas teve esta semana um volte-face com a desistência do principal candidato. larry summers era a escolha do presidente barack obama, de quem é conselheiro económico. mas a sua participação na desregulação do mercado financeiro nos anos 90 que lançou as bases para a crise financeira de 2008 – a maior desde 1929 – e a passagem pouco consensual à frente da universidade de harvard ditaram a sua retirada.
com summers, fora da corrida, janet yellen tornou-se na principal candidata ao lugar.
braço direito de bernanke
a economista formada nas universidades norte-americanas de brown e yale e docente em instituições tão reputadas como berkeley ou london school of economics, tem uma longa experiência em bancos centrais e política monetária. entrou para a fed em 1994, foi conselheira económica nos governos de bill clinton e em 2010 tornou-se vice-presidente do banco central americano e braço direito do actual governador, ben bernanke, que deverá sair em janeiro de 2014.
mas o consenso à volta do seu nome – as bolsas mundiais subiram quando se tornou a candidata nº1 à fed esta semana – não deriva só do seu currículo e experiência, mas também da sua visão e julgamento.
yellen foi das primeiras responsáveis da fed_a alertar para o perigo de uma bolha imobiliária e crise financeira global em 2007, um aviso que foi esquecido na época. na altura, a responsável trabalhava na fed de são francisco e conhecia bem os efeitos da crise imobiliária que a califórnia atravessava e que ameaçava tornar-se nacional. já anos antes, tinha sido uma opositora da euforia liberal de vários colegas seus na academia e na fed.
desemprego é prioridade
num mundo onde os bancos centrais são obcecados pelo controlo da inflação, a economista foi sempre uma voz discordante salientando que a prioridade deve ser a redução do desemprego, uma posição que lhe deu a alcunha de ‘pomba’.
janet yellen foi nos últimos três anos uma das maiores defensoras dentro da fed dos actuais programas de estímulo que os eua têm realizado para retirar a economia da recessão e fervorosa apoiante de mais regulação para o sector financeiro. duas posições que incomodam os republicanos mais extremistas e wall street.
casada com um prémio nobel da economia, george akerlof, yellen pertence à escola dos keynesianos norte-americanos como paul krugman ou joseph stiglitz. se ganhar o lugar de presidente da fed, a sua cara passará de uma desconhecida para uma figura mundialmente reconhecida.
os desafios são grandes. a economia dos eua está ainda numa retoma frágil, o desemprego melhora mas abaixo do estimado e o défice orçamental continua a ser uma dor de cabeça para washington. yellen poderá tornar-se na primeira mulher à frente da fed ou de qualquer banco central nas economias avançadas. se hillary clinton ganhar as eleições presidenciais em 2016, os eua arriscam-se a ser o primeiro país onde os dois cargos mais poderosos do país são femininos.