a brotéria, revista nacional dos jesuítas, dirigida pelo pe. antónio vaz pinto, publicou logo a entrevista traduzida em português no seu site (facilmente apanhável através do google), devendo apresentar a versão escrita quando sair o próximo número da publicação.
uma das novidades da entrevista é o tom chão que sua santidade usa, visando falar directamente para todos os leitores, e dispensando as interpretações que podem ser deturpadoras.
começa por esclarecer, por exemplo, que os seus dois pensadores franceses contemporâneos predilectos são os jesuítas-progressistas do vaticano ii henri de lubac e michel de certeau. elogia também o ex-papa negro (líder internacional dos jesuítas) pedro arrupe, tão combatido por joão paulo ii. sempre teve ao pé de si 4 imagens: as 3 da sagrada família (cristo no crucifixo, a virgem argentina de luján e são josé) e a de são francisco de assis. uma das razões fortes que diz tê-lo levado a escolher os jesuítas, quando andara mais próximo dos dominicanos, foi a disciplina apertada da companhia, especialmente útil para um indisciplinado nato.
e embora se comprometa a ouvir os órgãos de consulta da igreja antes de tomar decisões (mostra-se de resto avesso a decisões muito rápidas ou «à primeira decisão»), exige que esses órgãos (como os consistórios ou os sínodos) se tornem «menos rígidos», para proporcionarem consultas «reais, e não formais». explicou até que não substituiu a comissão de 8 cardeais que está a analisar a vida da cúria, por ter sido nomeada anteriormente pelos cardeais, e não querer contrariá-los.
mas vai mais longe no revolucionar de uma estrutura pouco habituada a grandes mudanças: «os argumentos que oiço sobre o papel da mulher são muitas vezes inspirados precisamente numa ideologia machista». daí defender uma maior participação da mulher nos centros de decisão da igreja, embora sem chegar a dizer como. um responsável jesuíta português, em declarações ao dn, disse não acreditar que chegue a abrir-lhes o sacerdócio, pelas implicações negativas que isso teria no diálogo com as igrejas orientais. pessoalmente, como católico, gostaria, e espero, que o papa não seja assim tão pragmático. o pragmatismo é o oposto do que devem ser os valores religiosos.
depois há o seu apoio sem dúvidas ao concílio vaticano ii. e mesmo, acompanhado de elogios ao papa bento xvi, e à prudência com que admitiu restaurar rituais litúrgicos antigos e latinos (o vetus ordo, rito litúrgico de s. pio v, usado até ao concílio vaticano ii), não deixa de afirmar: «considero, no entanto, preocupante o risco de ideologização do vetus ordo, a sua instrumentalização».
em relação aos gays e às mulhgeres que fizeram aborto, repete uma frase que já dissera na viagem ao rio: «quem sou eu para julgá-los?». e admitindo que tenham por vezes as suas razões (um homossexual que se tornasse abstinente, uma mulher obrigada a abortar e arrependida), sem mudar a posição da igreja nesses aspectos, pede apenas que o foco da sua mensagem sejam os evangelhos e a palavra de cristo. recusa, de resto, explicitamente, que alguma vez tenha sido de direita.
este é um papa dos novos tempos, e do povo cristão. não só pela empatia e comunicabilidade, mas pela própria mensagem.