Vítimas esperam justiça há 15 anos

Despiste de um carro no rali da Madeira, em 1998, matou uma mulher e uma criança. Familiares não receberam qualquer indemnização e julgamento só agora começa.

o caso da morte de duas pessoas na edição de 1998 do rali vinho madeira vai começar a ser discutido no tribunal de ponta do sol a 2 de outubro.

a 1 de agosto de 1998, na zona do paúl da serra, na madeira, o peugeot 306 maxi conduzido pelo piloto adruzilo lopes, capotou pelo menos cinco vezes, numa distância de 60 metros, quando descrevia uma ligeira curva à direita. seguia a 183 km/hora e colheu quatro espectadores que estavam 2,40 metros afastados da berma da estrada– dois morreram (helena nóbrega gouveia, 21 anos, e ricardo mendonça, de sete) e dois ficaram feridos, um dos quais com mazelas para o resto da vida.

as famílias das vítimas accionaram pedidos de indemnização (num dos casos superior a 250 mil euros) e aguardam há mais de 15 anos por um veredicto do tribunal. face à demora, já houve a intervenção do conselho superior da magistratura (csm).

para o próximo dia 2 de outubro está agendada uma sessão de julgamento da acção cível que os familiares colocaram em tribunal, a 19 de junho de 2001. são réus a peugeot portugal, a seguradora bonança, o director técnico/chefe de mecânicos da peugeot, carlos barros, e os mecânicos fernando pedro, paulo gonçalves e luís mateus. alguns dos dez inicialmente demandados ficaram pelo caminho, entre eles adruzilo lopes (piloto), luís lisboa (co-piloto) e a organizadora do rali, o club sports da madeira.

segundo o ministério público (mp), nem o piloto nem a organização do rali tiveram culpas no acidente, tendo sido observadas todas as regras de segurança, segundo os relatórios efectuados. a federação internacional automóvel (fia) diz que nenhuma responsabilidade pode ser assacada à organização da prova já que as vítimas se encontravam num local seguro, a cerca de 50 metros da curva fatídica, protegidos por duas grandes pedras.

inquérito-crime arquivado

face a esta prova, a 15 de julho de 1999, o mp arquivou o processo-crime por não terem sido “colhidos indícios suficientes da prática do crime de homicídio por negligência”. os familiares das vítimas não se conformaram – até porque souberam que numa classificativa anterior (a 20.ª) o carro de adruzilo lopes embateu com a traseira numa berma, tendo danificado o conjunto eixo/suspensão, e que, no final da 21.º classificativa, os mecânicos da peugeot tiveram apenas dez minutos para reparar o veículo.

além disso, sustentam que o conjunto mecânico foi substituído por “peças que não ofereciam condições de segurança e fiabilidade fora do parque fechado, num espaço de tempo que não proporcionou um “trabalho consciente e eficaz” e sem verificação das condições de segurança do ‘cubo da roda’ traseira esquerda, que veio a partir-se. os mecânicos “deviam ter aconselhado ao abandono”, sustenta-se na acção.

cidália freitas, mãe do pequeno ricardo mendonça, tem-se desdobrado em diligências junto do ministério da justiça, do csm, da fia e do tribunal europeu dos direitos do homem. ao sol, confessa alguma revolta contra a organização do rali e a demora da justiça. tem também razões de queixas de alguns advogados da ilha, o que a levou a recorrer a um causídico do continente. quanto às seguradoras, diz, limitaram-se a cobrir as despesas com os funerais. “é uma falta de consideração”, desabafa.

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