ausência feliz
ao contrário do que nos foi anunciado, o verão não foi o pior de sempre. pelo menos, não pareceu nada. se as estatísticas meteorológicas colocam o verão de 2013 num lugar bastante abaixo no top de melhores verões de sempre, então podemos afirmar que se tratou de um dos melhores piores verões de sempre. a ausência de alforrecas no mar contribuiu muito para a paz estival. este verão foi possível chapinhar na água até ao início do outono sem haver um único sinal de vida do animal que costuma marcar o fim da época de banhos. pelo menos por toda a costa lisboeta, linha do estoril, fonte da telha, etc. a água manteve-se fria, com poucas correntes, quase nada agitada, em modo de banheira de água fresca e sem bichos assustadores que queimam. este ano, penso que nem uma alga vi. a que se deverá esta ausência? talvez tenha sido das temperaturas frias. ou vieram todas no ano passado e decidiram este ano passar férias em espanha.
espelho negro
black mirror é uma mini-série britânica com duas temporadas de três episódios cada sobre os aspectos mais sombrios da nossa relação com a tecnologia. os dois episódios da primeira temporada lembraram a célebre série de rod serling, the twilight zone (quinta dimensão). não se trata exactamente de uma série de ficção científica, mas as possibilidades que apresenta não parecem deste mundo. no segundo episódio, há mais uma ideia de futuro, que faz lembrar o filme they live (eles vivem), de john carpenter. o mundo está transformado num reality-show em que a maioria pedala em bicicletas fixas para acumular créditos. quando um ‘ciclista’ chega aos 15 milhões de créditos, compra uma audiência com um júri que decidirá o que fazer do concorrente. enquanto os candidatos pedalam, são bombardeados com imagens de programas que fazem do big brother um programa do canal arte. podemos nunca chegar a este ponto de degradação humana, mas não vai ser por não termos tentado.
marcianos
o comediante louis c.k. afirmou numa entrevista a conan o’brien que não existe “para fazer os filhos felizes”. o motivo que o levou a dizer esta frase foi a insistência na moda de que as crianças que pedem smartphones devem ter o seu pedido satisfeito. louis c.k. defende que passar o tempo a interagir com os outros através de uma máquina perturba o processo de crescimento. segundo o comediante, os miúdos são maus uns com os outros e têm de o ser na presença uns dos outros, para perceberem as consequências dos seus actos. têm de aprender que dizer coisas horríveis tem efeitos e que os efeitos são visíveis nas caras de desagrado dos outros. na internet ninguém vê os estragos que causa. e sem ver, não há possibilidade de redenção. talvez neste aspecto seja de facto mais ‘perigosa’ do que a passiva televisão. mas louis c.k. está a pensar em miúdos que vivem exclusivamente na internet, sem nenhum contacto com o exterior. será que já existem?
uma boa surpresa
já não há surpresas na noite de entrega dos emmys, por isso não vale muito a pena ficar acordado noite dentro a ver quem vai ganhar (e perder). os vestidos (o que realmente interessa) estão disponíveis pouco depois da transmissão no youtube e em milhões de fotografias espalhadas pela internet. mas este ano tive pena de não ver entre bocejos a actriz merritt wever, que representou com brilhantismo um papel secundário na série nurse jackie, o da enfermeira zoey barkow, a ser chamada ao palco para receber a estatueta mais que merecida. é muito difícil criar uma personagem que não é um tipo de pessoa facilmente reconhecível. o emmy vai para a actriz, o que está correcto, mas quem criou a personagem encantadora também merecia um prémio. talvez esteja na hora de premiar as personagens. os criadores e argumentistas recebiam os prémios e falavam sobre pessoas que não podem receber estatuetas nem vestir vestidos. assim ficava acordada a ver.