A arte de frequentar dois cursos ao mesmo tempo

Beatriz e Frederico pertencem a uma minoria de estudantes universitários que tira dois cursos em simultâneo: Especialistas em gerir o tempo, conseguem estar com os amigos, fazer voluntariado e ter boas notas.

apesar de considerar que o seu dia ideal seria dormir até ao meio dia e acabar as aulas às 15:30, frederico toulson levanta-se habitualmente às 6:50 e chega a casa 14 horas depois.

quase todos os dias, o jovem de 19 anos atravessa a cidade de lisboa para conseguir ir às aulas dos cursos que está a tirar no instituto superior técnico (ist) e no instituto superior de economia e gestão (iseg).

aluno do 3º ano de matemática aplicada à economia e gestão (iseg) e do 2º ano de matemática aplicada e computação (ist), frederico tem um horário complexo: “às quartas não venho ao técnico e às sextas não vou ao iseg”, contou à lusa.

até agora ainda só deixou uma cadeira para trás e, com uma média de “16,3 valores num curso e 15 no outro”, garante que ainda consegue estar com os amigos e até ir às festas académicas. “basta gerir bem o tempo”, explica.

também beatriz goulão, de 24 anos, usa muito a palavra “gerir”: geriu o tempo de forma a conseguir tirar um curso, fazer dois mestrados e voluntariado em são tomé e príncipe sem deixar de ver as séries preferidas, ouvir música, sair com as amigas, estar com o namorado e família.

durante dois anos, beatriz foi aluna das faculdades de medicina e de ciências. tinha dois horários, o dobro dos professores e pagou duas propinas: o mestrado em doenças metabólicas e comportamento alimentar custou cerca de dois mil euros e a propina de bio-estatística rondou os mil.

assim que terminou a licenciatura em dietética e nutrição, começou os mestrados que terminou este verão com médias de 16 e 19 valores.

isto, apesar da interrupção de dois meses para integrar uma missão da ami em são tomé como dietista estagiária.

beatriz e frederico não são casos isolados. segundo os dados mais recentes, havia 1.616 estudantes a frequentar simultaneamente mais do que um ciclo de estudos no ano lectivo de 2008/2009, altura em que frequentavam o ensino superior cerca de 373 mil alunos.

a lusa encontrou outros três alunos que frequentam mais do que uma instituição de ensino superior na zona de lisboa.

miguel barbosa está a tirar um mestrado de bioética e um doutoramento em psicologia; joão leitão é aluno de mestrado em arte multimédia e de línguas, literaturas e culturas. já bárbara menezes está a tirar dois mestrados: medicina legal e ciências forenses e medicina dentária.

numa época em que as salas de aula das universidades e politécnicos estão cada vez mais vazias, estes alunos valem por dois.

beatriz e frederico acreditam que a formação superior é um instrumento essencial para o seu trabalho, contrariando os que defendem que o futuro não passa pelos bancos das universidades e institutos politécnicos.

o número de alunos que se candidata ao ensino superior tem vindo a diminuir nos últimos anos: uns desistem por dificuldades económicas outros porque querem e precisam começar a trabalhar o quanto antes.

este ano foram colocados cerca de 49 mil estudantes na 1.ª e na 2.ª fase do concurso nacional, números que preocupam o ministro nuno crato que já anunciou que iria pedir “um primeiro inquérito” para analisar a falta de candidaturas.

lusa/sol